Oi pessoal, tudo bem?
Aqui é o Gabriel de novo. Recentemente quebrei um pouco o protocolo aqui do site com uns reviews de classe econômica que você pode ler clicando aqui e aqui. Mas não é sobre isso que quero falar aqui hoje.
Recentemente comecei uma nova fase da minha vida vindo estudar em uma faculdade americana. Então arrumei minha malas, saí de casa e me joguei neste paraíso capitalista que é os Estados Unidos.
E claro que, ao chegar aqui, eu não pude parar de pensar em uma única coisa que os Estados Unidos são conhecidos por fazerem muito bem. Não, não estou falando de fast-foods com porções gigantes de comidas gordurosas, também não são super barganhas em outlets, nem mesmo parques de diversão de um rato falante ou as muambas que você vai comprar até abarrotar a sua mala e depois torcer pelo melhor ao passar na alfândega. Estou falando de cartões de crédito.
Cartão de Crédito Americano
Os cartões de crédito estadunidenses são mundialmente famosos por suas ofertas generosas de milhas (sign up bonus) e diversos outros benefícios que deixam qualquer viajante louco. São diversos “mimos” que vão desde descontos em passagens aéreas à lounges vip em aeroportos e diárias grátis em hotéis. Com isso em mente, conseguir um cartão de crédito passou a ser uma das minhas prioridades ao chegar aqui – juntamente com comprar roupas de cama para o dormitório e tentar não ficar acima do peso comendo bacon em todas as refeições (essa última está sendo a mais difícil até então).
Já deixo avisado que esse (ainda) não é um tutorial sobre como conseguir o cartão dos sonhos como o Amex Platinum e seus 100.000 pontos ao se cadastrar e gastar U$ 5.000 nos primeiros três meses, ou o Chase Saphire Reserve com seus U$300 de crédito para gastos de viagem e 3 pontos por dólar gasto em viagens e refeições, mas sim um pouco da minha experiência durante a tentativa de construção desse processo.
ANTES MESMO DE CHEGAR
Enquanto ainda estava no Brasil arrumando as últimas coisas antes do dia da viagem, resolvi mandar um email para o pessoal da faculdade perguntando a maneira mais fácil de um estudante internacional conseguir um cartão de crédito. Recebi a seguinte resposta:
“During the orientation week you will have the opportunity to go to the bank with the other first years to open a bank account that will come with a debit card.”
“Durante a semana de orientação você terá a oportunidade de ir ao banco, juntamente com os outros calouros, para abrir uma conta bancária que virá com um cartão de débito.”
Oi??
Sim, eu perguntei sobre um cartão de crédito e me responderam que eu iria ao banco para abrir minha conta que viria junto com um cartão de débito. Mas gente, eu quero saber como consigo um cartão de C R É D I T O, não de D É B I T O.
Apesar da confusão, eu só respondi agradecendo a informação e decidi que seria mais fácil conversar sobre isso assim que eu chegasse por lá.
TABU
Eu cheguei no campus uma semana antes das aulas realmente começarem para participar de um processo de orientação oferecido pela faculdade exclusivamente para alunos internacionais. Ou seja, os americanos ainda estavam de férias e só haviam praticamente estudantes de outros países.
Passada a etapa inicial de socialização e apresentações com os novos amigos, eu aproveitei a primeira oportunidade que tive para falar com um dos veteranos sobre minha intenção em conseguir um cartão de crédito e saber se ele tinha um. A resposta me deixou um pouco confuso:
Por quê você quer um cartão de crédito?
E ele falou isso quase que sussurrando, como se tivesse alguém nos ouvindo. Expliquei toda a questão das milhas e que minha real intenção não era conseguir crédito para poder comprar coisas que eu não conseguiria pagar depois. Meio incrédulo ele completou:
Bom, eles te dão um cartão de débito quando você abre a sua conta bancária.
O mais estranho é que essa situação das pessoas não entenderem o porquê de eu querer um cartão se repetiu em outras 7 situações em que resolvi fazer a mesma pergunta, e não só com outros estudantes internacionais, mas para americanos também.
De fato consigo entender a dúvida e a preocupação deles. Os juros por atrasar o pagamento de uma conta de cartão de crédito aqui podem ser bem altos (assim como é no Brasil). Então, para não ficarem enrolados com dívidas, os jovens preferem o seu bom e velho cartão de débito mesmo. Mas como eu disse, minha intenção com o cartão era realmente a parte dos benefícios e não a parte das dívidas. E como eu já estava bem acostumado a usar com responsabilidade o meu cartão de crédito no Brasil (que tinha um limite bem maior do que meus salários de editor de vídeos e estagiário poderiam pagar) resolvi seguir firme no meu objetivo e pesquisar as minhas opções para conseguir um cartão.
AS ALTERNATIVAS DE COMO CONSEGUIR UM CARTÃO DE CRÉDITO AMERICANO
Existem basicamente três formas de um brasileiro conseguir um cartão de crédito americano:
1- A primeira é através da via doméstica. Nesse caso você pode precisar de um SSN (o equivalente ao CPF dos Estados Unidos) ou Tax ID. Mas pode ser que você consiga fazer sem ter nenhum desses documentos.
2 – A segunda é através da via internacional. É quando você consegue um cartão americano usando o seu histórico na filial brasileira do banco. Foi assim que o Ale conseguiu o cartão dele. Você pode conferir detalhes dessa experiência nesse post.
3- A terceira também é através da via doméstica, mas um SSN ou Tax ID. Ela vai exigir que você tenha um endereço americano, que é possível com algumas artimanhas.
Vou focar na primeira opção.
Ainda nos primeiros dias depois que eu cheguei por aqui, resolvi abrir a minha conta no banco. Escolhi o Wells Fargo pelo simples motivo de que é o mais próximo do campus.
A MINHA EXPERIÊNCIA ABRINDO UMA CONTA BANCÁRIA NOS EUA
O processo de abrir a conta é bem tranquilo e, no caso da conta de estudante, não há nenhuma taxa. Qualquer um com um endereço americano pode abrir uma conta no banco. E o melhor é que você não precisa morar nos EUA para ter um endereço americano, muitas empresas oferecem o serviço de HUB para isso.
Enquanto estava fazendo os processos da abertura de conta com a gerente, eu falei sobre minha intenção de conseguir um cartão de crédito. Ela disse:
Mas você já vai ter um cartão de débito.
Precisei dar outra explicação sobre os meus motivos. Nesse ponto eu já tinha feito essa explicação umas 8 vezes, e a cada uma dessas vezes a história ia diminuindo na quantidade de detalhes e aumentando na minha quantidade de preguiça. Por fim resumi em apenas:
É que eu quero milhas, moça.
Preciso compartilhar com vocês que me senti um troglodita com um linguajar arcaico falando isso, pois essa frase em inglês soou mais ou menos assim.
It’s because I want miles, lady.
Ok, podem rir. Eu mesmo já tirei um tempo para rir bastante desse “lady”.
No fim acabei entrando em uma longa conversa com a gerente e expliquei direitinho os meus motivos.
SSN
Como eu ainda não tinha um SSN, que é essencial para conseguir um cartão de crédito, ela me recomendou o “secured credit card”. Esse tipo de cartão é para quem não tem nenhum tipo de histórico capaz de dizer ao banco se você é bom pagador ou não. O cartão funciona assim: você deixa o valor que deseja ter como limite segurado no banco e daí vai pagando a sua conta todo mês, se você deixar de pagar a sua fatura, o banco recorre ao valor que você deixou segurado, caso contrário, o valor do depósito é liberado depois de 6 meses, que é o tempo necessário para você conseguir o seu score de crédito. Ou seja, se depositou 100 dólares, tem 100 dólares de crédito e continua assim até que o banco tenha seu histórico e possa te oferecer um limite sem necessidade de depósito.
É possível conseguir esse tipo de cartão apenas usando apenas o seu passaporte e uma boa dose de carinho com o gerente. Entretanto, como eu já sabia que teria que fazer o meu SSN, decidi esperar um pouco.
OBTENDO O SSN
Como possuo um visto F1 e uma autorização de trabalho no campus preciso, obrigatoriamente, de um Social Security Number. Então, cerca de 15 dias depois de entrar nos Estados Unidos fui, junto com os outros alunos internacionais da faculdade, ao Social Security Office para conseguir meu SSN.
O processo foi bem rápido e sem muitas burocracias. Recebi o meu SSN cerca de 5 dias depois por correio.
ESCOLHENDO O CARTÃO DE CRÉDITO AMERICANO
Com o SSN em mãos eu estava pronto para mergulhar de cabeça no mundo de pontos e benefícios pelo qual eu tanto desejei.
Bom, na verdade não foi bem assim. Explico: como eu não possuía nenhum histórico de crédito, ser aprovado para os grandes cartões seria praticamente impossível. Por isso eu precisava começar por baixo. Pesquisei um pouco sobre quais seriam minhas alternativas e descobri que é relativamente fácil de ser aprovado para o cartão “Student Cash Back” da Discover. Para quem não sabe (tal qual eu não sabia) a Discover é uma das maiores empresas de cartão dos EUA, junto com Visa, MasterCard e Amex.
O Student Cash Back é um cartão sem anuidade exclusivo para estudantes universitários e do ensino médio e possui benefícios como: 5% de cash back em compras de até U$1.500 ao mês em categorias selecionadas (atualmente esse cash back vale para compras na Amazon e no Whole Foods, mas eles mudam isso a cada três meses); 1% de cash back em todas as demais compras; e $20 ao ano se você mantiver boas notas. Mas não, este cartão não oferece milhas. Nem milhas por se inscrever (sign up bonus), nem milhas ao fazer compras. Nadinha.
Então por quê esse cartão?
Simples: pela facilidade em ser aprovado mesmo sem histórico de crédito.
Se eu quero aquele tão sonhado Amex ou Chase, o Discover é o passo número 1 dessa jornada.
Decisão feita! Acessei o site da Discover e preenchi o formulário de aplicação. Em menos de 5 minutos eu havia sido aprovado e ainda com um crédito maior do que eu havia conseguido ao solicitar o meu primeiro cartão de crédito no Brasil!
Cerca de uma semana após a aprovação eu já estava com o cartão em mãos.
E agora?
Bom, agora preciso construir meu histórico de crédito. Esse é só o começo do processo.
As Vantagens do cartão de crédito Americano
Agora vamos falar de uma parte bem importante:
Por quê você precisa de um cartão de crédito americano?
Bom, pensei muito sobre essa pergunta e percebi que na maioria dos casos você não precisa, ou melhor, não deveria precisar.
O quê??? Todo esse post para isso?
Bom, abaixem as tochas e foices e vamos com calma: se você mora no Brasil e não viaja com muita freqüência então não faz muito sentido ter um cartão de crédito americano.
Bom, tendo isso em mente, também há duas situações em que vale a pena ter um cartão americano:
A primeira é se você, assim como eu, se mudou para os EUA seja para estudar ou para trabalhar. Nesse caso você só tem a ganhar com um cartão de crédito do Tio Sam. E se tiver um SSN também vai ser melhor ainda!
A segunda é se você viaja muito. Vou explicar usando um personagem:
Fabinho viaja com frequência para os EUA, tanto a trabalho quanto a lazer. Fabinho então mantém uma conta americana e usa o seu cartão de crédito para ganhar milhas. Com isso ele consegue fugir tanto dos 6,38% de IOF cobrado pelos cartões brasileiros em transações internacionais quanto do dólar turismo que o seu banco usa para fazer as conversões. Fabinho então paga as suas faturas com o dinheiro em espécie que ele leva consigo nas viagens (sem ultrapassar o limite de U$ 10.000) ou mesmo fazendo transferências internacionais usando serviços como TransferWise e pagando um dólar PTAX + 1 (que é bem mais barato que o turismo) mais taxas.
Além de tudo você precisa colocar na balança a questão fiscal. Manter uma conta bancária fora do país vai te dar um trabalhinho a mais com a declaração de imposto de renda. Esse assunto fiscal divide um pouco de opiniões, encontrei relatos de pessoas que fazem isso sem problema nenhum e outras que tiveram dor de cabeça em explicar para o governo o motivo e o destino das remessas internacionais de dinheiro. Não vou entrar na questão – melhores consultarem um contador.
Agora eu quero saber de vocês: alguém já tem ou teve um cartão de crédito americano? Se sim, como foi a sua experiência em conseguir? E quanto à parte de manter uma conta bancária nos EUA sem ser residente, já tiveram alguma dor de cabeça com isso?
Podem deixar suas dúvidas nos comentários também! Vamos interagir, pessoal!
Assim que eu tiver mais novidades sobre esse assunto volto a escrever para vocês.
Mensagem do Alê: Pessoal, td bem? este é um relato do Gabriel como estudante universitário nos EUA . Aos poucos vamos abordando outras experiencias dentro do Passageiro de Primeira. Aguardem!