Quero colocar em pauta uma questão que me intriga: por que não temos voos diretos do Brasil para San Francisco?
Localizada no estado da Califórnia, a cidade de San Francisco é considerada uma das mais lindas cidades dos Estados Unidos! O turismo ferve por conta da beleza da região, dos pontos turísticos e da infraestrutura de primeira! Além disso, a baia de San Francisco abriga a sede de várias empresas de alta tecnologia. Segundo a revista Forbes, a região tem o maior salário para trabalhadores de alta tecnologia e as cidades de San Jose, Sunnyvale e Santa Clara têm a maior taxa de milionários e bilionários per capita nos Estados Unidos.
Como se não bastasse, o Aeroporto Internacional de São Francisco é o maior aeroporto da região e o segundo mais movimentado na Califórnia, depois do Aeroporto Internacional de Los Angeles. SFO, como é identificado, é o quinto maior hub da United Airlines. O terminal F também serve como principal base de operações da ALASKA (parceira da LATAM).
Adicionalmente, quando pensamos na operacionalização dessa rota, vemos que as aeronaves mais modernas, como o B787 e o A330-neo, são pequenas, econômicas e com alcance mais do que o suficiente para o trajeto.
Elenquei acima diversos fatores que poderiam incentivar a rota direta, mas ainda assim, apesar do turismo, dos negócios, das aeronaves modernas e da boa conectividade doméstica e internacional a partir do aeroporto de SFO, infelizmente não existem voos diretos entre o Brasil e San Francisco. Nenhuma das cias aéreas americanas, brasileiras ou de outro país têm interesse em operar a rota.
Afinal, por que não temos vôos diretos do Brasil para San Francisco?
Segue minha análise:
A vizinha LAX parece uma melhor opção
A American opera voos diretos para o Brasil a partir de Los Angeles, principal hub da cia na costa oeste. A Delta, apesar de oferecer muitos voos partindo de SFO, não considera o Aeroporto um hub. Assim, é compreensível que as duas cias aéreas não tenham ambições de operar rotas de SFO para o Brasil.
No caso das brasileiras, a LATAM já opera voos para Los Angeles partindo de Santiago e de Lima. Provavelmente, o custo de abrir uma nova base (tão próxima de LAX) que não seja um hub da sua parceira de codeshares, a American, seja um fator relevante para a cia não voar diretamente para San Francisco.
A escala nos EUA em voos para outros continentes requer visto
Já as cias aéreas asiáticas, que poderiam usar a cidade de San Francisco como escala até o Brasil, preferem passar pelas cidades europeias. A obrigatoriedade do visto americano é um dos principais fatores que jogam contra uma escala nos EUA. A Korean, que já operou voos entre a Coreia e o Brasil via EUA, optou por Los Angeles como ponto de parada.
A United centraliza suas operações partindo do Brasil em Houston
San Fracisco é hub da United. A cia norte americana tem forte presença no aeroporto. O Mapa abaixo mostra todas as cidades atendidas a partir de lá:
Reparem que o aeroporto é utilizado como hub da United para a Ásia, a Oceania e o Pacífico. SFO concentra mais voos para estes continentes que Los Angeles ou Houston. Consigo visualizar um brasileiro saindo do Brasil, conectando em “San Fran” e seguindo para o Tahiti, Seoul, Taiwan e ainda fazendo um stopover com sorriso no rosto!
Por outro lado, San Francisco, partindo do Brasil, não oferece a melhor localização para conexões dentro dos Estados Unidos. A cidade fica no norte da Califórnia e para seguir de lá para a grande maioria das cidades geraria um maior tempo total de voo. Houston, outro hub da United no Texas, é melhor posicionado para isso. Não é à toa que a empresa centraliza lá a maioria dos voos para o Caribe e a América Latina. Vejam o mapa de cidades atendidas por IAH:
O Route Economics não é favorável?
Ainda assim, com todos esses fatores, no fim do dia tudo se resume ao “route economics“, ou as “finanças/economia da rota”. As cias aéreas sabem com boa precisão quantos passageiros estão voando entre duas cidades em suas aeronaves e nas de parceiros; e conseguem simular parte da potencial demanda com base nisso. Adicionalmente, fatores como custo do combustível, taxas aeroportuárias, disponibilidade de slots, aeronaves, marketing, custo operacional no aeroporto, demanda para negócios X turismo e suas respectivas tarifas médias, entre outros, fazem parte da conta, determinando se é ou não economicamente viável ou desejável operar uma rota.
Provavelmente United, Latam, AA, Delta, Korean e outras aéreas interessadas fizeram a sua lição de casa e constataram que a rota até poderia ser rentável, mas não neste momento… Seja porque suas aeronaves já estão alocadas em rotas ainda melhores financeiramente ou porque operar SFO simplesmente não daria um resultado positivo.
Comentário
Eu adoraria ver um voo direto entre São Paulo e San Francisco, e não paro por aí: sonhar não custa nada! Seria demais pedir que fosse operada por uma cia aérea asiática? Quem sabe essa rota não poderia marcar o retorno da JAL no Brasil (alias, não deixem de ler o post –> A história da JAL e o adeus ao Brasil). Ou talvez a estreia da ANA ou EVA AIR!
E vocês, discordam da análise? acrescentam algum outro fator?