A Boeing enviou à agência reguladora norte-americana, FAA, um compilado de mensagens entre seus funcionários sobre o 737 MAX. No conteúdo, é possível ler conversas em que disseram que o avião foi “produzido por palhaços” e que alguns funcionários já sabiam de eventuais problemas, mas acobertaram a empresa. Os e-mails haviam sido enviados no início de 2018, meses antes do primeiro acidente envolvendo a aeronave.
“O compilado de mensagens foi entregue à Agência Reguladora dos Estados Unidos (FAA) como parte da política de transparência da Boeing“, disse a fabricante através de nota. As mensagens divulgadas pelo The New York Times, foram disponibilizadas por congressistas norte-americanos que investigam o processo de certificação do 737 MAX.
Troca de mensagens
“Este avião foi produzido por palhaços e está sendo supervisionado por macacos (ao se referir à FAA)”, disse um deles. Em outra mensagem é possível ver um funcionário perguntando ao outro se ele voaria em um MAX. A resposta, por sua vez, foi bastante polêmica: disse que não deixaria sua família voar, e completou dizendo “Deus ainda não me perdoou pelo que acobertei ano passado“.
Em outro caso, um empregado comemora o fato de não precisar fazer testes em simulador para operar a aeronave “Quer dizer que eu posso ficar 30 anos sem pilotar um 737NG, que ainda assim vou poder dirigir essa coisa? Amei!“. A empresa não exigia simuladores do MAX para pilotos que pilotavam o NG. O mesmo funcionário que comemorou o fato de não precisar realizar testes, ainda disse que isso era uma medida de corte de gastos da Boeing.
A Boeing emitiu uma nota aonde mostrou total indignação e disse que as mensagens divulgadas “não condizem com a política da empresa“. Leia abaixo o posicionamento da fabricante:
Nota da Boeing
“Em dezembro, a Boeing proativamente levou essas mensagens à FAA, por conta de nossa política de transparência. Nós também fornecemos cópias Comitê de Comércio, Ciência e Tecnologia do Senado e ao Comitê de Transporte e Infraestrutura da Câmara em reconhecimento às suas funções de supervisão. Esses documentos foram divulgados com o incentivo do presidente DeFazio e do presidente Wicker.
Algumas das mensagens relatam o desenvolvimento e qualificação dos simuladores do MAX entre 2017 e 2018. Elas contém linguagem provocativa e, em certas vezes, levanta questões sobre a interação entre a Boeing e a FAA, no que tange o processo de qualificação do simulador.
Depois de ter analisado o problema, nós estamos confiantes de que todos os simuladores do MAX estão funcionando de maneira eficaz. As atividades de qualificação mencionadas nessas comunicações ocorreram no início da vida útil desses simuladores. Desde então, especialistas internos e externos no assunto testaram e qualificaram repetidamente os simuladores em questão. Mais de vinte qualificações regulamentares dos simuladores MAX, realizadas pela FAA e vários reguladores internacionais, foram realizadas no início de 2017. O simulador específico neste caso – Miami – foi reavaliado seis vezes durante este período. O software do simulador vem se aprimorando constantemente desde então, por meio de repetidos ciclos de testes, qualificação e revisão do código do software.
Essa troca de mensagem não representa os valores da Boeing e são totalmente inaceitáveis. Dito isto, continuamos confiantes no processo regulatório para qualificar esses simuladores.
Ao fornecer essas comunicações à FAA, e tendo considerado cuidadosamente a perspectiva da reguladora sobre esses assuntos, também decidimos fornecer documentos adicionais que foram identificados no decorrer das revisões do programa 737 MAX. Apoiaremos totalmente, qualquer revisão adicional que a FAA acredite ser apropriada em relação a qualquer um desses assuntos, bem como o envolvimento contínuo dos comitês do Congresso relevantes com essas mensagens.
Lamentamos o conteúdo desses documentos e pedimos desculpas à FAA, ao Congresso e aos clientes das companhias aéreas. Fizemos mudanças significativas para aprimorar nossos processos, organizações e segurança. O idioma usado nessas comunicações e alguns dos sentimentos que eles expressam não são condizentes com os valores da Boeing, e a empresa está tomando as medidas apropriadas em resposta. Em última análise, isso incluirá ações disciplinares ou outras ações pessoais, depois que as revisões necessárias forem concluídas“.
Atual situação do MAX
Após ser impedido de operar – devido a dois acidentes em 2018 e 2019, que não deixaram sobreviventes – a Boeing está fazendo o possível para que o 737 MAX consiga o aval das agências reguladoras mundias e, com isso, esteja liberado para voltar ao trabalho. A fabricante produzia cerca de 40 aeronaves deste modelo por mês, mas acabou interrompendo sua fabricação, devido o impedimento de voar.
Analistas apontam que a Boeing perdeu aproximadamente US$9 bilhões, além de prejudicar companhias aéreas e fornecedores.