Você já parou para pensar como é que uma empresa que administra e opera um aeroporto ganha dinheiro? Temos visto ao longo dos últimos anos vários aeroportos sendo concedidos à iniciativa privada aqui no Brasil. Essas concessões são feitas a partir de leilões milionários, ou seja, empresas apostam muito dinheiro nesse negócio e, é claro, esperam ter retorno! Agora, como é que esses grandes grupos fazem para ganhar dinheiro?
Com certeza você deve imaginar que há várias formas dos aeroportos ganharem dinheiro. Essas receitas se dividem, basicamente, em dois grandes grupos, como irei explicar a seguir.
Receitas Aeronáuticas
Essas receitas são aquelas oriundas da atividade principal de qualquer aeroporto: prover infraestrutura e serviços para que as empresas aéreas possam operar seus voos de passageiros e cargas. Em outras palavras, as receitas aeronáuticas estão diretamente relacionadas à aviação propriamente dita.
No caso dos aeroportos administrados pela Infraero, após recente flexibilização, ela mesma determina os valores das taxas em cada aeroporto, respeitando os valores máximos determinados pela ANAC.
Para os aeroportos que foram concedidos, esses tetos também são definidos no próprio contrato de concessão. Quaisquer reajustes dos tetos precisam ser negociados com a ANAC. São elas:
Tarifa de Embarque:
A tarifa de embarque, ou taxa de embarque, é aquela que a gente (passageiro) paga no momento da compra da passagem aérea. Ela é a única receita aeronáutica que é paga pelos passageiros, todas as demais são custos das empresas aéreas. Essa taxa basicamente remunera o operador do aeroporto pela utilização das instalações e facilidades do terminal. Vale lembrar que os valores são diferentes para passageiros em voos domésticos e internacionais.
Alguns exemplos de tarifas de embarque (valores vigentes em junho/2020):
- Aeroporto RIOgaleão: R$32,84 (DOM) e R$129,18 (INTER).
- Aeroporto de Guarulhos: R$31,69 (DOM) e R$127,11 (INTER).
- Aeroporto de Confins: R$31,69 (DOM) e R$121,92 (INTER).
- Aeroporto de Congonhas: R$34,57.
- Aeroporto de João Pessoa: R$27,16.
Tarifa de Conexão:
Essa é uma taxa paga pela empresa aérea toda vez que um passageiro faz conexão em um aeroporto. Digamos que eu esteja indo de Guarulhos para Recife com uma conexão em Salvador. Eu irei pagar a tarifa de embarque de Guarulhos e a empresa aérea pagará uma tarifa de conexão para o Aeroporto de Salvador.
Algumas tarifas de conexão (valores vigentes em junho/2020):
- Aeroporto RIOgaleão: R$11,13 (doméstico e internacional).
- Aeroporto de Guarulhos: R$10,73 (doméstico e internacional).
- Aeroporto de Confins: R$10,74 (doméstico e internacional).
- Aeroporto de Congonhas: R$10,58.
- Aeroporto de João Pessoa: R$8,31.
Tarifa de Pouso:
Toda vez que uma aeronave toca o solo de um aeroporto, a empresa aérea deve remunerá-lo por meio da tarifa de pouso. Ela remunera o operador em relação aos serviços e facilidades que proporcionam as operações do pouso, taxiamento e dá direito à permanência da aeronave em solo por até 3 horas.
A tarifa de pouso para aeronaves que compõem o chamado Grupo I (transporte aéreo regular e não-regular) é definida em função do seu peso máximo de decolagem, em toneladas, e da natureza da operação (doméstica ou internacional).
Algumas tarifas de pouso (valores vigentes em junho/2020):
- Aeroporto RIOgaleão: R$10,2853/tonelada (DOM) e R$27,4209/tonelada (INTER).
- Aeroporto de Guarulhos: R$9,9212/tonelada (DOM) e R$26,4516/tonelada (INTER).
- Aeroporto de Confins: R$9,9248/tonelada (DOM) e R$26,4600/tonelada (INTER).
- Aeroporto de Congonhas: R$10,83/tonelada.
- Aeroporto de João Pessoa: R$8,91/tonelada.
O peso máximo de decolagem de um A320 da LATAM, por exemplo, é 89 toneladas. Para pousar no RIOgaleão, a LATAM pagaria R$915,39 em um voo doméstico e R$2.440,46 em um voo internacional. Por outro lado, o peso máximo de decolagem de um A380 como o da Emirates é de 560 toneladas. Para pousar em Guarulhos, em um voo vindo de Dubai, a empresa paga quase R$15.000!
Tarifa de Permanência:
A tarifa de permanência é cobrada somente após as três primeiras horas após o pouso, que são garantidas pelo pagamento da tarifa de pouso. É o custo devido pela empresa aérea para que a sua aeronave permaneça estacionada naquele aeroporto por um tempo maior.
Essa permanência pode ser tanto nos pátios de manobras (próximos aos portões de embarque – PPM) ou nas Áreas de Estadia (posições mais afastadas dos portões de embarque – PPE). As taxas também são definidas em função do peso máximo de decolagem das aeronaves, em toneladas, e da natureza da operação (doméstica ou internacional), porém aqui se multiplica também pelo tempo de permanência.
Veja algumas tarifas de permanência (valores vigentes em junho/2020):
RIOgaleão:
- PPM: R$2,0231 (DOM) e R$5,4744 (INTER) por hora tonelada.
- PPE: R$0,4312 (DOM) e R$1,1145 (INTER) por hora tonelada.
Aeroporto de Guarulhos:
- PPM: R$1,9603 (DOM) e R$5,2811 (INTER) por hora tonelada.
- PPE: R$0,4160 (DOM) e R$1,0750 (INTER) por hora tonelada.
Aeroporto de Congonhas:
- PPM: R$2,1351 por hora tonelada.
- PPE: R$0,4574 por hora tonelada.
Aeroporto de João Pessoa:
- PPM: R$1,7429 por hora tonelada.
- PPE: R$0,3706 por hora tonelada.
Tarifas de Armazenagem e Capatazia:
Essas tarifas são cobradas em relação à movimentação de cargas e mercadorias nas instalações do aeroporto, bem como a sua armazenagem. Quem as paga são os consignatários, ou seja, quem irá receber a carga. Em caso de carga em trânsito, o custo fica por conta da empresa aérea.
Receitas Não-Aeronáuticas
Essas receitas são aquelas que não estão diretamente relacionadas à aviação, mas que, ano após ano, se tornam cada vez mais essenciais tanto para os aeroportos. Podem também ser entendidas como receitas comerciais. Veja alguns exemplos:
- Concessões comerciais – lojas, restaurantes etc.
- Estacionamentos.
- Aluguel de espaços comerciais.
- Publicidade.
- Realização de eventos.
- Aluguel de espaços para eventos e reuniões.
- Lojas Duty Free.
- Espaços de entretenimento.
As possibilidades são inúmeras e, quando a gente olha para aeroportos como Changi, por exemplo, o céu é o limite. Quanto maior o aeroporto, mais diversificada costuma ser esse tipo de receita. Os aeroportos da Ásia são os que conseguem alcançar a maior porcentagem de receitas não-aeronáuticas no mundo (em torno de 50% da receita total), seguidos daqueles no Oriente Médio.

Dados de 2018. Fonte: Airports Council International.
Na imagem acima, temos dados de 2018 publicados pela ACI – Airports Council International, que mostram que, em termos globais, 55,9% das receitas dos aeroportos são aeronáuticas, enquanto 39,2% são não-aeronáuticas e 4,9% são não operacionais. A média da receita aeronáutica por passageiro ficou em $10,03 e as não-aeronáuticas em $7,03. Por outro lado, o custo total por passageiro foi, em média, de $13,76. Isso mostra que se os aeroportos não tivessem as receitas não-aeronáuticas, eles não conseguiriam cobrir o custo do passageiro, e muito menos teriam lucro.
Dentre as não-aeronáuticas se destacaram as concessões comerciais com 28,9%, os estacionamentos com 20,4% e a parte imobiliária com 14,9%.

Lojas no Terminal 3 de Changi. Imagem: Papo de Aeroporto.

Lojas no Terminal 4 de Changi. Imagem: Papo de Aeroporto.
Gostou de aprender um pouco sobre como os aeroportos ganham dinheiro? Se você tiver alguma dúvida, é só deixar aqui embaixo nos comentários que a gente resolve!