A história do agricultor que tem uma fazenda no meio do Aeroporto de Narita

Aeroportos Notícias

Por Rafael Castro

Você já assistiu ao filme “O Terminal”? Naquele filme, Viktor Navorski, personagem de Tom Hanks, fica morando no Aeroporto JFK em Nova York porque o seu país sofre um golpe de estado e seu passaporte perde a validade. Nesse momento, ele fica impedido de entrar nos EUA e também de retornar à fictícia Krakozhia, pois as fronteiras foram fechadas. Viktor passa meses vivendo no aeroporto, obrigatoriamente – caso parecido a de um homem que vive na área do Aeroporto de Narita, em Tóquio, há décadas e se recusa a sair de lá.

Fazenda no Aeroporto de Narita

Imagem: Kazuhiro Nogi / AFP.

O Aeroporto de Narita é o principal portão de entrada internacional do Japão e movimentou quase 45 milhões de passageiros em 2019, de acordo com os números da Narita International Airport Corporation (NAA).


Para início de conversa… essa história é bem antiga!

A história do Aeroporto de Narita é uma história de conflitos. De acordo com uma matéria do The Japan Times, na época em que Narita foi planejado (na década de 1960), esse era um dos maiores projetos de obra pública já realizados no Japão, portanto a expectativa era grande. O grandioso projeto, porém, acabou tendo somente 1/3 do tamanho original, isso porque os fazendeiros cujas terras seriam confiscadas pelo governo resistiram a sair.

A área escolhida pelo governo, Sanrizuka, ficava fora do município de Narita. Muitos dos lotes por ali pertenciam à Imperial Household Agency (Agência da Casa Imperial – responsável por questões relativas à família imperial japonesa) e os demais eram basicamente ocupados por fazendeiros, em sua maioria, pobres – cerca de 1200 pessoas. É claro que o governo não imaginou que os “fazendeiros pobres” fossem oferecer qualquer tipo de resistência. O que aconteceu foi um pouco diferente.

Quando a polícia apareceu para forçá-los violentamente a se mudarem, a resistência comoveu muitos japoneses, principalmente os estudantes que consideravam as motivações do governo um tanto quanto imperialistas e capitalistas. O resultado foi um dos protestos mais violentos da história do ativismo japonês: seis pessoas mortas e centenas feridas ou presas.

Narita Resistência

Imagem: Kikujiro Fukushima.

Depois que três policiais foram mortos durante a segunda desapropriação forçada de terras em 1971, o líder do Corpo da Juventude dos Agricultores, de 22 anos, se enforcou em remorso e com o objetivo de causar arrependimento nas autoridades. O tiro acabou saindo pela culatra e enfraqueceu a união dos agricultores. Pouco a pouco, os manifestantes começaram a abandonar e vender suas terras, em alguns casos por grandes compensações financeiras.

A inauguração do aeroporto foi adiada por anos, seu tamanho e funcionalidade foram seriamente reduzidos. A abertura se deu em 1978 e com uma única pista, ao invés de duas, conforme planejado (a segunda pista veio somente em 2002).

A maioria dos fazendeiros acabou abrindo mão das suas terras. Uma das famílias mais impactadas, entretanto, continua resistindo até os dias de hoje. Essa é a história da família de Takao Shito: o homem que vive, planta e colhe no meio do Aeroporto de Narita.


Não, ele não se incomoda com o ruído das aeronaves

Os antepassados de Shito já cultivavam na região de Narita, a começar pelo seu avô, há cerca de 100 anos. A tradição foi passando de geração em geração até chegar em Takao Shito, que assumiu as terras e as tarefas do pai após o seu falecimento.

Taiko Shito

Imagem: AFP.

Assim como seu pai o fez durante os manifestos da década de 1960, Shito se recusa a deixar a sua fazenda. Basicamente, ele ocupa duas áreas no Aeroporto de Narita: uma onde fica a sua casa e outra onde mantem uma plantação orgânica de 10 tipos de vegetais, como cebola, alho, cenoura e cebolinha.

Narita - Mapa

Localização da casa e da fazenda de Takao Shito em meio ao Aeroporto de Narita. Imagem: AFP.

Quando a segunda pista do aeroporto foi planejada, mais uma vez foi oferecido a Shito uma boa quantia de dinheiro pela área onde fica as suas plantações, pois elas ficam exatamente por onde passaria uma taxiway que levaria até uma das cabeceiras da pista 16L/34R. Shito recusou a oferta e o projeto teve que ser adaptado, adicionando uma curva em torno de sua plantação, como é possível ver na imagem a seguir:

Plantações de Shito

Imagem: Google Maps.

A casa de Shito também precisa ser desviada pelas aeronaves e o acesso é feito por túneis que passam por baixo do aeroporto. Dá uma olhada na entradinha da casa dele (eu já fiquei com vontade é de comprar para mim):

Narita Airport

Entrada da casa de Takao Shito, no meio do Aeroporto de Narita. Imagem: Google Streets.

Para Shito, essa “não é somente uma questão de dinheiro“, disse ele à agência de notícias AFP. Até porque, o aeroporto já chegou a oferecer 180 milhões de ienes, o equivalente a mais de 1 milhão e 600 mil dólares, pelos seus lotes. “Eu faço agricultura orgânica sem pesticidas. Você não pode simplesmente mover a superfície do solo e esperar que seja o mesmo em lotes diferentes“, disse Shito.

Eu me divirto cultivando vegetais aqui. Esta é a minha vida: cultivar vegetais neste solo. Eles têm um gosto diferente.”

Tokyo fazenda

Imagem: AFP.

Há cerca de 1 semana, a inglesa BBC publicou um vídeo sobre o homem que vive em um aeroporto internacional. Nessa ocasião, Shito chegou a declarar: “Eu quero continuar cultivando. Meu solo é bom porque foi colhido pelos últimos 100 anos. Plantar, colher e entregar vegetais para clientes satisfeitos… nada me dá mais alegria!“. O japonês possui cerca de 400 clientes em Tóquio e arredores.

O vídeo da BBC você pode conferir aqui embaixo:


A relação com o aeroporto

É claro que a relação de Shito com a administração do Aeroporto de Narita não é das mais tranquilas. Ele está atualmente envolvido em cinco processos diferentes com o aeroporto. Até o momento, não se sabe se será possível despejá-lo. Sobre o assunto, a NAA respondeu à AFP somente o seguinte: “Determinaremos nossas ações futuras consultando advogados e outras pessoas interessadas, ao mesmo tempo em que analisamos a situação“.

O principal argumento do agricultor é que a sua subsistência depende daquilo que é proveniente da terra, se garantindo por meio da Lei de Terras Agrícolas do Japão, que dá aos agricultoras ampla proteção legal.

E ele tem muitos apoiadores! Pelo menos 10 voluntários o auxiliam no trabalho e alguns deles eram estudantes que fizeram parte do movimento da década de 1960. Tudo indica que Shito não tem planos de parar de lutar, ele acredita que muitas pessoas aceitam facilmente o que o governo diz, sem sequer questionarem.

“Eu quero que as pessoas do mundo saibam que há um agricultor aqui nesse lugar. Eu quero que as pessoas saibam”, disse ele. Shito, agora o Brasil também sabe que tem um agricultor cultivando, se sustentando e vivendo no meio do Aeroporto de Narita!


Você já conhecia essa história? Eu fiquei muito tocado quando a conheci. Acho que mostra o quanto esses grandes equipamentos aparentemente tão impessoais como os aeroportos, na realidade, são tão pessoais e tão cheios de histórias e de vida.

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