Uma notícia ontem de manhã pegou todos de surpresa: a LATAM Brasil e a Azul anunciaram acordos de codeshare e entre seus programas de fidelidade.
Como essa parceria pode nos afetar? Fizemos uma análise sobre alguns pontos importantes, além das vantagens e desvantagens que essa aproximação entre as empresas pode representar.
Qual foi o acordo anunciado entre LATAM e Azul?
As companhias firmaram dois acordos, um de codeshare e outro entre seus programas de fidelidade.
- Acordo de codeshare:
Para quem não está familiarizado com o termo, codeshare é uma espécie de acordo de cooperação entre as empresas aéreas, no qual uma transporta passageiros que emitiram seus bilhetes pela outra. Com isso é possível oferecer aos clientes mais opções de destinos do que cada uma ofereceria sozinha.
Segundo as companhias, o acordo de codeshare incluirá inicialmente 50 rotas domésticas não sobrepostas de/para: Brasília (BSB), Belo Horizonte (CNF), Recife (REC), Porto Alegre (POA), Campinas (VCP), Curitiba (CWB) e São Paulo – Guarulhos (GRU), oferecendo aos clientes várias opções de conexões novas e mais convenientes no Brasil. Os codeshares também irão possibilitar uma experiência de viagem mais tranquila entre os voos da Azul e LATAM, com bilhetes compartilhados para check-in e despacho de bagagem até o destino final.
Saiba em mais detalhes o que é um acordo de codeshare nesse post.
- Acordo entre os programas de fidelidade:
Já os acordos entre programas de fidelidade costumam permitir que os clientes de uma companhia acumulem pontos ao voar com a parceira e também resgatem voos dela utilizando seus pontos. Além disso, geralmente há um reconhecimento de membros elite, sendo oferecidos os benefícios de status de passageiro frequente ao voar com a parceira.
No caso da Azul e LATAM, o acordo entre seus programas de fidelidade possibilita que 12 milhões de associados do TudoAzul e 37 milhões de membros do LATAM Pass possam acumular pontos no programa de sua escolha.
Por outro lado, pelo menos nesse primeiro momento, não há a possibilidade de resgatar voos utilizando pontos nem benefícios de status entre as companhias.
Como funcionará o acordo de codeshare entre LATAM e Azul
Em termos práticos, se tudo correr bem, você poderá emitir no site da LATAM, por exemplo, um voo saindo de São Paulo para Fernando de Noronha (um destino não atendido pela LATAM), realizando o segundo trecho da viagem com a Azul. Toda a compra será feita diretamente com a LATAM, mesmo existindo voos operados pela Azul em seu itinerário.
Ao realizar a reserva de um voo codeshare, seu bilhete vai exibir o número do voo da empresa com a qual você fez a reserva (no caso, a LATAM), ainda que alguns trechos da viagem sejam feitos por outra empresa, que utiliza um número diferente (no caso, a Azul).
Observação:
As companhias não detalharam quais serão as 50 rotas incluídas no acordo, mas como disseram que são rotas domésticas não sobrepostas, incluindo de/para o aeroporto de Recife, assumimos, como exemplo desse post, que a rota entre Recife (REC) e Fernando de Noronha (FEN), operada pela Azul, será uma delas. Como a LATAM não opera essa rota, ela não é sobreposta.
As companhias de fato se complementam
Se pararmos para analisar as companhias de forma geral, fica claro que suas malhas aéreas são altamente complementares. De um lado temos a Azul, atendendo mercados regionais e operando diversas rotas pelo país praticamente sozinha. Do outro temos a LATAM, com um foco em cidades maiores e grande presença no mercado internacional. Um relatório divulgado pelo Banco BTG mostrou que o overlap de rotas entre LATAM e Azul é de apenas 21%, a mais baixa combinação entre as cias brasileiras.
Ou seja: com a Azul, a LATAM poderá atender destinos regionais que sozinha não tinha interesse de se aventurar. Da mesma forma, com a LATAM, a Azul poderá transportar seus passageiros para diversos destinos internacionais, seja nas Américas, Europa, Oriente Médio e até na África.
Além disso, não há grandes conflitos em termos de HUBs, mais um fator que contribui para que as companhias se complementem. As principais bases da Azul ficam em Campinas, Recife e Belo Horizonte, enquanto a LATAM tem HUBs em São Paulo (tanto Guarulhos como Congonhas), Brasília e Rio de Janeiro.
Comentário
Essa aproximação entre as companhias pegou todos de surpresa!
Apesar do acordo inicialmente incluir somente algumas rotas domésticas não sobrepostas, isso pode diminuir a competitividade e disputa entre as companhias. Por exemplo: sem o acordo, a LATAM poderia ter interesse em operar voos para Fernando de Noronha; mas agora não precisa mais, já que em vez de competidoras, as companhias passam a ser parceiras.
Por outro lado, no momento atual, o problema não tem sido a oferta de voos e sim a demanda! As pessoas estão com receio de voar e a recomendação é de não viajar, o que acaba acarretando em uma busca por voos bem menor e companhias operando voos vazios. Além disso, o comportamento do público corporativo deve mudar. Será que ainda teremos uma demanda tão alta de executivos na ponte aérea, por exemplo? Essa é uma das rotas mais rentáveis para as cias aéreas brasileiras e uma eventual redução na demanda não passará desapercebida.
O cenário da aviação mudou, pode mudar ainda mais e não sabemos por quanto tempo a situação de crise vai durar. Esse movimento de aproximação entre duas antigas rivais pode ser decisivo para o futuro de ambas empresas. Temos que lembrar que a pandemia pode apresentar desafios ainda maiores para o mercado brasileiro. Melhorar a efetividade da operação e a estrutura corporativa pode ser essencial para a sobrevivência de qualquer um, não apenas de uma cia aérea, mas também de redes hoteleiras, agências de turismo, OTAs, entre outras. As consolidações e parcerias estratégicas devem aumentar nos próximos meses.
Dito tudo isso, ainda restam muitas dúvidas, que com o tempo devem ser respondidas:
- Será que vão disponibilizar a opção de resgate por pontos entre os programas no futuro?
- A partir de quando o acordo vai estar implementado?
- Poderia acontecer uma fusão entre as duas companhias?
Aliás, esse último ponto é uma questão que, dependendo do andar da carruagem, pode fazer sentido. Qual a sua opinião sobre a aproximação de LATAM e Azul?