Lugar da mulher é realmente onde ela quiser?

Notícias

Por Priscila Brisighello

1962. Foi este o ano em que as mulheres casadas ganharam o direito de trabalhar sem a necessidade da autorização do cônjuge. São mais de 60 anos de lá para cá e ainda nos deparamos com comentários misóginos, que nos reduzem a cuidar dos filhos, do marido e do lar. Sem espaço para posições de liderança, já que elas minam a nossa energia feminina. A pergunta que fica é: até quando? Até quando seremos obrigadas a enfrentar este tipo de pensamento que não consegue nos enxergar como mulheres potentes, que não necessariamente iremos seguir o script traçado para nós anos atrás?

Diante do que ocorreu ontem, da demonstração do total repúdio às mulheres CEO – e aqui podemos estender a qualquer uma que priorize seu trabalho, o PP, com cadeiras ocupadas por lideranças femininas, não poderia se isentar. No entanto, para além da polêmica, vale um debate trazendo para a nossa realidade de viagens, milhas e aviação: qual é o verdadeiro espaço das mulheres nestes ambientes? Aqui vai uma reflexão de alguém que se aventura por essas bandas sozinha há mais de dez anos sem ter necessariamente uma companhia masculina ao seu lado: no caso, eu mesma!

Aviso: aqui não se trata sobre um posicionamento político e nem sobre apoio ou não ao feminismo, mas sim sobre o óbvio: respeitar as escolhas das mulheres, sejam elas quais forem, sem reduzir a nossa caminhada.


Lugar da mulher é realmente onde ela quiser?

Não, não é. Quem é mulher sabe que nós, infelizmente, ainda não ocupamos todos os espaços de igual para igual com os homens. Ainda que o discurso seja bonito – e realmente é, a prática é outra história. A luta é imensa, ainda mais se considerarmos o recorte socioeconômico e racial.

De maneira inapropriada, a polêmica de ontem trouxe algum holofote a este debate. Ao refutar com tamanha ojeriza ter ao seu lado uma mulher CEO, qualquer um com o mínimo de consciência de gênero ficou horrorizado com a fala. Pois é, 2024 e ainda escutamos vozes de quem quer nos negar o direito de ocuparmos os nossos lugares. Sobre isso, trago uma reflexão da minha amiga Rosa em seu LinkedIn:

“O movimento de negar algo, para a psicanálise, está intimamente relacionado ao poder de dizer não ao outro, mas como forma de defesa de si mesmo. Negar algo é querer colocar ou manter essa estrutura à parte, em separado, de maneira que não “me atinja”. O que é questão de tempo de perceber é que só se nega algo depois que esse algo já atingiu a estrutura que se queria proteger.”


E o lugar das mulheres no mundo de viagens e milhas? 

Em 2020, com a pandemia e o boom do marketing digital, eu entrei no Instagram (@brise.pri) para falar sobre o universo das milhas e tão logo percebi. À exceção de um perfil e outro, que não vou citar nomes pra não ser injusta com quem talvez eu não tenha conhecido na época, os criadores eram majoritariamente homens.

Na sala VIP ou na Classe Executiva, a mesma coisa. Homens ou mulheres, mas acompanhadas de homens. Sozinhas eram poucas e raras – e eu era uma dessas, quase que uma espécie em extinção. Depois de um tempo, as mulheres começaram a ocupar mais esses espaços, mas aí comecei a observar um outro movimento: a total ausência de criadoras de conteúdo em cima dos palcos nos eventos presenciais. Isso também está mudando e, inclusive, existem painéis somente com mulheres para discutirem temáticas atuais sobre este mundo. Thamires, obrigada por me chamar para participar dos seus!

Nas viagens sozinhas, a presença feminina é maior, mas não menos problemática. Lembro com muita clareza a indignação de um rapaz que se sentou ao meu lado no status run da LATAM que fiz em 2021 e puxou papo comigo. Para ele, era uma aberração sem igual eu estar voando sozinha – cadê seu namorado?, perguntava. Então, moço, deixa eu te contar uma coisa…

Eu viajo sozinha desde os meus 20 anos – hoje estou com 34, então são belos 14 anos nesta jornada de viajante solo, mas não solitária. Em todas as viagens, enfrento comentários estereotipados, que vão do mais absurdo ao mais ingênuo possível. Desde insinuações de que viajamos sozinhas em busca de relações amorosas, quase como um objetivo final, a perguntas sobre segurança, mas principalmente sobre coragem. Sim, basta viajar sozinha que você irá escutar o quão corajosa é.

Ainda há aquelas dúvidas sobre se o seu companheiro ou família permitiu a viagem. Pior: há aqueles que desacreditam que você pode estar rodeada de pessoas tão ‘permissivas’ a ponto de deixá-la viajar sozinha – só pode ser mentira e invenção sua para que eu saia daqui. Já quem é mãe, o que não é o meu caso, precisa constantemente lidar com a dúvida cruel: mas quem cuida dos seus filhos enquanto viaja? “O pai, ué…”. 

Ser mulher que tem total autonomia e independência para desbravar o mundo por aí é gratificante, mas não e nem será fácil. É preciso ter peito de aço para enfrentar algumas barbaridades nas quais nos deparamos. Mas é preciso dizer que há muita gente boa e legal nesse mundo, que dá toda a força necessária para que continuemos a seguir firmes no propósito. Minhas viagens foram rodeadas por pessoas assim, independentemente do gênero.


Às mulheres viajantes

Se há algo em que eu posso apostar é que as mulheres viajantes são, no fundo, apaixonadas. É uma vontade imensa de ir e vir, de conhecer novos lugares e de colecionar experiências. É o desejo de construir a nossa história por meio de memórias proporcionadas em viagens, que, até então, eram somente possíveis nos nossos sonhos. No entanto, o conhecimento adquirido nos libertou e hoje somos as protagonistas da nossa trajetória.

Minha primeira viagem sozinha no auge dos meus 20 aninhos.

O fato de sermos mulheres já não nos impede mais. Nós temos a proatividade de irmos atrás das informações e de fazer acontecer. Temos a garra de encarar os desafios de viajar em família e temos a ousadia de realizar uma viagem sozinha mesmo quando muitos tentam nos amedrontar. Seja nos ares, nos quatro cantos do mundo, no trabalho ou dentro de casa, não importa. O mundo já não é mais como antigamente e temos total autonomia para ditarmos os nossos passos.


Às mulheres do PP

Eu, como editora-chefe tanto do Passageiro de Primeira como da Travel, sinto-me imensamente orgulhosa com o time feminino que construímos até agora. Somos, ao todo, 14 mulheres, de todos os tipos: casadas ou solteiras, mães ou as que não querem ter filhos, heteros ou pan, brancas ou pretas, do Nordeste ou Sudeste e também da Europa, religiosas ou não, de diversos posicionamentos políticos e gostos pessoais. Somos diversas, mas que, independentemente do que somos, nós nos respeitamos acima de tudo – porque era nisto o que uma sociedade deveria se pautar: em respeito.

Dito isso, fica aqui uma mensagem que recebi há menos de um mês e que encheu meu coração. Não vou citar nomes por motivo de ‘não pedi autorização para divulgar, mas estou postando assim mesmo’ rs.

Às mulheres do PP: não, o mérito não é meu – ou, pelo menos, não só meu. Se vocês não tivessem abraçado a não rivalidade feminina, não teríamos chegado até aqui. E que bom que chegamos! Que bom, pois só assim conseguiremos alcançar os lugares mais distantes e a ocupar os nossos espaços – independente do que eles falem.


PS: agradecimento especial ao Ale e ao Fábio por me darem o incentivo de escrever este texto, além de total liberdade criativa. Ainda, agradeço também a confiança depositada em mim e no meu trabalho. 
PS 2: de ódio, já basta a polêmica de ontem. Quaisquer comentários ofensivos serão deletados. 

Alertas de Milhas no WhatsApp
Alertas de Milhas no WhatsApp Receba alertas de passagens de milhas no WhatsApp!
Hotéis
Hotéis Ganhe 8% de desconto em estadias até 31 de março de 2026
Seats.Aero
Seats.Aero 20% de desconto em qualquer plano do Seats.Aero com cupom exclusivo
AwardWallet Plus
AwardWallet Plus 6 meses grátis do AwardWallet Plus para novos usuários
Canal do WhatsApp
Canal do WhatsApp Entre no nosso canal do Whatsaap e confira todas as oportunidades
Ver todos os cupons

Baixe o app do Passageiro de Primeira

google-play
app-store

O maior portal de programas de fidelidade do Brasil.
Tudo sobre milhas e pontos, voos e salas VIP, hotéis e lazer, cartão de crédito e promoções.