Você já deve ter ouvido falar na expressão “SLOT AEROPORTUÁRIO” por aí, principalmente em notícias que saem na mídia como, por exemplo:
Revista Valor (02/03/2020): “Coronavírus leva IATA a pedir relaxamento na política de ‘slots’.”
O Globo (31/07/2019): “Azul recebe 15 slots que eram da Avianca no Aeroporto de Congonhas.”
Agora, será que você realmente sabe o que é e quanto custa um slot aeroportuário? O Dr. Aeroporto te explica! Vale ressaltar que esse é um dos processos mais complexos da gestão aeroportuária. Por isso, o objetivo desse post é apresentar uma visão geral sobre os slots, ok? Então tá ok!
O que é um slot aeroportuário?
A alocação dos slots aeroportuários segue um conjunto de recomendações que foram publicadas pela Associação Internacional dos Transportes Aéreos (IATA) no documento chamado “Worldwide Slot Guidelines” (WSG).
Um slot aeroportuário é a permissão dada para que uma operação planejada por uma empresa aérea possa usar toda a infraestrutura aeroportuária necessária para chegar ou sair de um aeroporto de nível 3 em uma data e hora específicas.
Por sua vez, um aeroporto de nível 3 é aquele onde:
- A demanda por infraestrutura aeroportuária excede significativamente a capacidade do aeroporto durante um determinado período de tempo;
- A expansão da infraestrutura do aeroporto não é possível em um curto prazo;
- Tentativas de solução do problema de capacidade a partir de ajustes voluntários de horários dos voos se mostraram ineficazes;
- Como resultado, o processo de alocação dos slots é requerido, sendo necessário que todas as companhias aéreas e outros operadores de aeronaves tenham um slot alocado por uma coordenação, a fim de chegar ou partir do aeroporto durante os períodos em que ocorre a alocação de slots.

Gráfico elaborado com base nos dados da IATA.
Portanto, de acordo com as recomendações do WSG, SOMENTE os aeroportos de nível 3 devem passar pelo processo de alocação de slots. Os aeroportos de nível 2, aqueles que possuem potencial de congestionamento durante determinados períodos da semana ou do dia, devem somente apontar um facilitador para fazer ajustes nos horários dos voos a partir de acordos entre as empresas aéreas e os aeroportos.
A exceção é quando da realização grandes eventos, onde aeroportos que não necessariamente sejam de nível 3 precisem ter slots alocados por conta do aumento temporário do tráfego aéreo.
Em dois períodos do ano (verão e inverno), os aeroportos devem enviar às autoridades competentes uma “Declaração de Capacidade” para que se identifique o nível de congestionamento em que cada aeroporto se encontra.
Aqui no Brasil, de acordo com as últimas declarações de capacidade dos aeroportos entregues à Agência Nacional da Aviação Civil (ANAC) e com os dados da própria IATA, os seguintes aeroportos são classificados como “nível 3” e, portanto, passam pelo processo de alocação de slots:
- Aeroporto Internacional de Recife (REC)
- Aeroporto Santos Dumont – Rio de Janeiro (SDU)
- Aeroporto de Congonhas – São Paulo (CGH)
- Aeroporto Internacional de Guarulhos (GRU)
- Aeroporto de Belo Horizonte – Pampulha (PLU)
Quem faz a alocação dos slots?
A alocação dos slots não pode ser feita diretamente pelo aeroporto ou pelas empresas aéreas. Para garantir que o processo seja feito da forma mais transparente e justa possível, a autoridade responsável deve garantir a nomeação de um coordenador após consultas às companhias aéreas, à administradora do aeroporto e às organizações representativas como a IATA, por exemplo. Os coordenadores devem ser funcional e financeiramente independentes de qualquer uma das partes interessadas.

Imagem: Victor Freitas/Pexels.
No Brasil, a ANAC faz a coordenação dos slots desde 2009, quando precisou aplicar ao Aeroporto de Guarulhos as regras internacionais da coordenação de aeroportos. Desde então, a ANAC realizou as seguintes ações, além da coordenação permanente dos aeroportos mencionados ali em cima:
- Coordenação de 11 aeroportos para o período da Copa das Confederações de 2013;
- Coordenação de 5 aeroportos para o período da Jornada da Juventude de 2013;
- Coordenação de 25 aeroportos para o período da Copa do Mundo FIFA de 2014;
- Coordenação de 8 aeroportos para a temporada de Verão 2016 (S16) devido aos eventos dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016.
Leilões de slots aeroportuários
Esse é um assunto bem delicado, pois a IATA (autora do WSG) combate fortemente a realização de leilões de slots. A organização defende que os slots devam ser alocados de maneira justa e igualitária entre as empresas aéreas.
Acontece que muitos aeroportos pelo mundo afora têm visto os slots como mais uma forma de gerar receita, principalmente aqueles administrados pela iniciativa privada. E como não há obrigação de que os aeroportos sigam as recomendações do WSG, alguns acabam não resistindo a ganhar um dinheiro a mais. E é muito dinheiro!
Na China, por exemplo, uma determinada quantidade de slots dos aeroportos de Guangzhou Baiyun e Shanghai Pudongfoi foi colocada a venda há alguns anos. Uma grande quantidade de dinheiro foi arrecadada, mas será que, para as empresas aéreas, pagar uma bolada por um slot é sustentável à longo prazo?
No caso chinês, os vencedores dos leilões receberam o direito de utilizar os slots por 3 anos e sabemos que 3 anos é também o tempo médio que geralmente uma empresa aérea leva para começar a ganhar dinheiro em novas rotas. Ou seja, pagar uma valor muito alto por um slot pode determinar o prejuízo de uma empresa aérea a longo prazo.
Além disso, os leilões também não são bons para nós passageiros. Se ganha o slot sempre quem der o maior lance, teremos sempre as mesmas empresas aéreas grandes e detentoras de maior capital operando nesses aeroportos. Isso diminui a concorrência e faz com que, naturalmente, as tarifas aumentem. Hoje, as maiores empresas aéreas de baixo-custo européias (EasyJet, Ryanair, Vueling, Norwegian e Wizz Air) usam um número significativo de slots em aeroportos congestionados, como Barcelona, London Gatwick, Dusseldorf, Paris Orly e Amsterdam Schiphol.
Troca e venda de slots entre empresas aéreas
A troca e a venda de slots entre empresas aéreas é permitida e, principalmente a troca, é altamente encorajada pela IATA. Se a empresa aérea X detém um slot que não utilizará mais no futuro, ela pode fazer uma proposta de troca por outro slot com a empresa aérea Y. Essa negociação não é permitida em todos os países e deve acontecer diretamente entre as empresas interessadas. Vale lembrar que esse slot precisa ter sido utilizado por, pelo menos, 2 anos antes desse processo.
No Reino Unido, a chamada “negociação secundária” tem sido usada com sucesso principalmente nos aeroportos de Heathrow e Gatwick, em Londres. No final de janeiro desse ano, a Air New Zealand vendeu um par de slots em Heathrow por meros 27 milhões de dólares, de acordo com a Forbes, já que anunciou que deixará de voar para esse aeroporto a partir de outubro de 2020. Os slots vendidos correspondem aos horários diários de chegada em Heathrow às 10:50 e saída às 15:20. A Air New Zealand ainda não anunciou quem foi o comprador. O blog One Mile at a Time especula os possíveis compradores: Vistara (da Índia), Emirates, Qatar, American, Delta ou United. Saberemos somente em outubro, provavelmente!

Imagem: Pascal Renet/Pexels.
O valor mais alto já negociado por um par de slots em Heathrow foi pago pela Oman Air por 75 milhões de dólares! A detentora dos slots era a Air France/KLM e o alto valor foi justificado por serem horários ditos “prime” nesse aeroporto: chegada às 05:30 e saída às 08:30.
Então já viram: é muuuuito dinheiro que rola nesses negociações secundárias!
Como novas empresas aéreas conseguem seus slots?
Quando novas empresas entram no mercado e querem operar em aeroportos que são coordenados há, basicamente, 3 possibilidades:
- O aeroporto faz uma revisão da sua capacidade e descobre que há slots desocupados. Quando isso acontece, o WSG prevê que 50% de qualquer nova capacidade sejam reservados para novas empresas.
- Um slot fica disponível porque uma empresa aérea decide que não o quer mais e devolve o slot ao aeroporto. A nova empresa pode manifestar o interesse por aquele slot.
- Participar de uma negociação secundária, comprando um slot de outra empresa. Há também possibilidades de compartilhamento do slot.
Para resumir!
No final das contas, a alocação de slots serve para gerenciar a capacidade de aeroportos congestionados. A única solução para reduzir o congestionamento é criando mais capacidade, com a construção de novas pistas e/ou terminais de passageiros e com a melhoria dos controles de tráfego aéreo.
Finalizando, a IATA fez um vídeo super interessante e explica de forma bem fácil e resumida o que eu expliquei por aqui!
Você ainda ficou com alguma dúvida sobre os slots aeroportuários? Deixa aqui nos comentários ou me chama lá no Instagram!