Desde que anunciamos que o Aeroporto de Berlim-Tegel havia sido fechado após a inauguração (super atrasada) do Aeroporto de Berlim-Brandenburgo, recebi pelo Instagram inúmeras mensagens me perguntando: o que irá acontecer com Tegel agora que foi fechado? Fui em busca e encontrei algumas respostas
Aeroportos de Berlim: um pouco de história
Os aeroportos de Berlim nunca significaram somente terminais de acesso ao transporte aéreo. Esses equipamentos sempre refletiram, de alguma forma, o que estava acontecendo na turbulenta história da cidade e do país durante os séculos XX e XXI.
Talvez o mais famoso deles tenha sido Tempelhof. Inaugurado em 1927, Tempelhof definiu o seu lugar na história da aviação alemã quando Berlim foi totalmente bloqueada pela União Soviética entre os anos 1948 e 1949 e o aeroporto era a porta de entrada autorizada de suprimentos para a cidade a partir dos serviços aéreos chamados de airlifts.
Fechado em 2008, o aeroporto se transformou em um parque para a população. Parte do enorme terminal funciona ainda como um centro de recepção e acolhimento a refugiados desde 2015. Atualmente, há também tours guiados que contam a história e mostram toda a infraestrutura do então Aeroporto de Tempelhof. Para informações sobre o tour, acesse o site do Tempelhof Projekt.
Schönefeld, o outro aeroporto da cidade, foi inaugurado em 1946 como o principal campo de aviação da Alemanha Oriental e, segundo diversas fontes, manteve a atmosfera soviética muito além da reunificação do país. De acordo com informações da rede de notícias CNN, após a Segunda Guerra Mundial, quando Berlim Ocidental ainda estava nas mãos das forças aliadas, havia planos de transformar a área de Tegel em loteamentos, mas o líder soviético Joseph Stalin tinha planos diferentes.
Como o bloqueio que ele ordenou começou em junho de 1948, descobriu-se rapidamente que havia necessidade de um campo de aviação adicional para trazer suprimentos (além de Tempelhof), então as autoridades francesas responsáveis pelo distrito de Tegel ordenaram a construção de uma pista de 2.500 metros de comprimento – a mais longa da Europa na época. A obra durou somente 90 dias e a primeira aeronave pousou em 05 de novembro de 1948. Após o fim do bloqueio, seis meses depois, Tegel tornou-se a base berlinense da Força Aérea Francesa.
Tegel se tornou rapidamente o principal aeródromo de Berlim. Em 1950 já se percebia que as pistas de Tempelhof eram pequenas para receber as aeronaves que se tornavam cada vez maiores. Em 1975 foi inaugurado o terminal de Berlim-Tegel, em formato hexagonal, um design impressionante que encurtou as distâncias de caminhada para 30 metros da aeronave até a saída do terminal.
Com a reunificação alemã em 1990 e a mudança do governo de Bonn para Berlim, todas as restrições ao tráfego aéreo de Berlim foram suspensas e Tegel se tornou o aeroporto oficial do governo alemão. A reunificação também significou que o número de passageiros e voos aumentaram exponencialmente à medida que as viagens aéreas se tornaram cada vez mais comuns.
Tegel foi projetado para receber 2,5 milhões de passageiros por ano, mas 24 milhões de pessoas voaram a partir de lá em 2019. Ainda que um novo terceiro terminal tenha sido adicionado em 2007, Tegel tornou-se cada vez mais apertado, com operações e instalações claramente desatualizadas.
De qualquer forma, Tegel sempre teve um lugar especial no coração da população de Berlim, não somente pela sua história, mas também pela sua atmosfera dos anos 1970 e localização privilegiada. Era chegada a hora, porém, de que a cidade tivesse um aeroporto que, de fato, acomodasse a demanda de passageiros e voos e oferecesse uma infraestrutura mais moderna. É aí que surge Berlim-Brandenburgo e sua conturbada história, já contada em outro post aqui no PP.
Esse mapa da CNN nos dá uma visão mais clara das localizações dos aeroportos de Berlim, bem como suas datas de abertura e/ou fechamento:
E agora: o que irá acontecer com Berlim-Tegel?
Os planos para o local onde funcionava o Aeroporto de Berlim-Tegel são bastante ousados. Um parque industrial e de pesquisa para tecnologias urbanas será desenvolvido naquele espaço nos próximos anos, o Berlin TXL – The Urban Tech Republic, além de um novo bairro residencial chamado Schumacher Quartier.
Na Urban Tech Republic, cerca de 1.000 pequenas e grandes empresas com 20.000 funcionários trabalharão em pesquisa, desenvolvimento e produção. Mais de 2.500 alunos se mudarão para o antigo edifício do terminal junto com a prestigiosa Beuth University. No total, cerca de 5.000 alunos habitarão o campus Berlin TXL. Berlin TXL se concentrará no que mantém vivas as grandes cidades em crescimento do Século 21: o uso eficiente de energia, construção sustentável, mobilidade ecologicamente correta, reciclagem, controle de rede de sistemas, água limpa e aplicação de novos materiais. Berlin TXL – The Urban Tech Republic é uma iniciativa única na Europa na atualidade, senão em todo o mundo.
Esses novos projetos para a futura vida na cidade estarão disponíveis nas áreas vizinhas do antigo aeroporto: No Schumacher Quartier, haverá mais de 5.000 casas para mais de 10.000 pessoas em um distrito urbano vibrante com creches, escolas e estabelecimentos comerciais. Soluções com visão de futuro serão exploradas para fornecer energia neutra para o meio ambiente e altos padrões de energia, bem como novos modelos de mobilidade. As tecnologias serão pesquisadas e desenvolvidas bem ao lado – na Urban Tech Republic. Outras 4.000 casas estão planejadas para os distritos vizinhos de Cité Pasteur e TXL Nord.
O desenvolvimento do Schumacher Quartier terá como premissa sete diretrizes básicas:
- Espaços de vida urbanos;
- Moradia para todos;
- Vegetação urbana e espaços públicos;
- Paisagem educacional;
- Desenvolvimento urbano favorável às questões climáticas e sensível em relação ao uso dos recursos hídricos;
- Distrito com garantia de mobilidade ecologicamente correta;
- Comunicação, participação e transparência.
O governo de Berlim encomendou à empresa estatal Tegel Projekt GmbH o desenvolvimento e a gestão do Berlin TXL – Urban Tech Republic e do Schumacher Quartier. Seu trabalho inclui a revisão do plano diretor e o desenvolvimento da marca, os planos para a construção do edifício e a infraestrutura técnica, energética e de transporte, bem como o planejamento de vendas e comunicações do projeto com o público em geral.
O projeto como um todo será implementado em fases e não veremos muita coisa por lá até 2027 que é para quando está prevista a entrega dos primeiros prédios residenciais e do campus universitário. A parte do Schumacher Quartier deverá estar completa até 2035, enquanto o Urban Tech Republic pode levar até 2040 para estar completamente pronto.
Resumindo, o futuro parece brilhante para a área do aeroporto que já teve funções tão importantes para a Alemanha, porém, ainda precisaremos esperar bastante para vermos algo mais concreto. De qualquer forma, parabenizo o governo de Berlim por pensar em projetos tão interessantes, que trazem usos tão singulares para um espaço que poderia ficar simplesmente sem utilização por parte da sociedade.
Eu só espero uma coisa: que já seja reservado o meu AP lá pelo Schumacher Quartier! Quem vamos?