Recentemente, entrevistei o Mauricio Sana, CEO da Flybondi, para conversarmos sobre a companhia argentina logo após o lançamento do Ticket 3.0, que permite mudar o nome do bilhete, dar de presente ou transferir a outra pessoa de forma muito simples. Durante a conversa, perguntei sobre o mercado brasileiro, internacional e sobre as futuras estratégias da empresa. Confira!
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- Flybondi no mercado
- Visão “low cost” da Flybondi
- Flybondi no Brasil
- Flybondi em outros mercados internacionais
- Novas aeronaves da Flybondi
- Programas de milhas na Flybondi
- Projeção de mercado da Flybondi
Flybondi no mercado
Apesar de já ser conhecida no mercado brasileiro, a Flybondi tem apenas 5 anos de fundação. Nesses anos, mesmo com pouco tempo de vida, a companhia já enfrentou duas crises: a pandemia e a inflação argentina.
De acordo com o CEO, a companhia nasceu com um plano de crescimento agressivo, mas que enfrentou anos turbulentos na sequência, causados pelas crises financeiras no país e de saúde mundial com a Covid-19. “A Flybondi nasceu em 2018 com um frota de 5 aviões – o que é excelente para um início de companhia aérea. Contudo, ainda em 2018, enfrentamos problemas econômicos no país, que afetaram os planos de crescimento, que tiveram de ser sobrepostos para o futuro”, começou o Executivo.
No ano seguinte, 2019, a companhia pode sonhar mais alto e, depois de uma reorganização nos planejamentos, tiveram bons resultados, incluindo a estreia no mercado internacional – iniciando voos para o Brasil. “Em 2019 as coisas mudaram, fomos mais positivos financeiramente nos meses de julho, dezembro e janeiro de 2020, o que nos permitiu acrescentar uma aeronave em nossa frota (passando de 5 para 6 jatos). Mas em março de 2020 veio a pandemia e, como qualquer companhia aérea mundial, tivemos nossas dificuldades“.
A pandemia fez com que a companhia adiasse a chegada de sua 6ª aeronave e repensasse algumas de suas operações. Mesmo assim, Mauricio Sana disse que a companhia continuou vendendo passagens – mesmo que em número bem mais reduzido. “Nos meses da pandemia, nossas vendas diminuíram bastante, mas, mesmo assim, continuamos vendendo bilhetes. Foi uma redução significativa e que refletiu na saúde financeira da companhia, mas não passamos um mês sequer sem vender passagens”.
Sana também informou que, durante a pandemia, a Flybondi estava preparada para operar voos de repatriação, mas que foram proibidos de operá-los em cima da hora. “Foi complicado, tínhamos a esperança de operar esses voos de repatriação, principalmente no Brasil, Paraguai e estávamos também conversando com o governo do Peru para operar os voos, na hora do cancelamento”, lamentou.
Ele disse que o período foi muito desafiador para a companhia e que, além de usar o hiato de voos para estudar os mercados, também tiveram que devolver quatro dos cinco aviões que restavam em sua frota. “A pandemia serviu para nós analisarmos quais eram as relações dos agentes reguladores, dos mercados e, principalmente, dos passageiros com a Flyobondi. Também neste período, dos cinco aviões que tínhamos em frota, quatro tiveram de ser devolvidos, restando apenas um para manter o certificado de companhia aérea”.
Mesmo com os tempos difíceis, Sana disse que foi criado um vínculo muito forte com os funcionários da companhia. “Perante o impedimento das viagens, nós fortalecemos os laços com nossos funcionários. Eles aceitaram reduzir os salários para ajudar a manter a Flybondi ativa”.
Junto dos problemas relacionados aos voos com a companhia, também veio a informação de que o Aeroporto El Palomar, hub da companhia à época, teria de ser fechado. “O aeroporto fechou em junho e aí pensamos conosco “O que vamos fazer?”, não tínhamos voos e tampouco aeroporto para operar. Aproveitamos que o aeroporto era caro para manter as operações e, em 2020, mudamos oficialmente para Ezeiza”.
As situações começaram a mudar a partir do final de 2020. “Nosso primeiro voo após o impedimento foi cheio. Todas as pessoas que compraram os bilhetes em março se fizeram presentes na operação e, depois disso, tivemos a certeza de que as pessoas preferiam voar conosco”.
De acordo com o CEO, em setembro de 2020, as ocupações nos voos da Flybondi passaram a ser de 90%, fazendo com que a companhia passasse de um para quatro aviões em sua frota. “Voltamos a operar com quatro aeronaves no final de 2020 e, em setembro de 2021, já estávamos com o mesmo nível de passageiros que o apresentado no período pré-pandemia”.
Em 2022, a empresa continuou crescendo, aumentando sua frota de aeronaves para 12, e atualmente pretende terminar 2023 com, no mínimo, 17 aviões. A partir de julho deste ano, é esperado que a expansão das operações da Flybondi para novos mercados e aumento das frequências nas cidades que já opera.
Visão “low cost” da Flybondi
Para o CEO, as operações da Flybondi também representam um fator democrático no transporte de pessoas, tanto no mercado doméstico, quanto internacional – impulsionando a economia argentina.
“Com o preço baixo ofertado, nós contribuímos para os passageiros voarem mais. Um exemplo é que antes uma família argentina voava uma vez por ano a Buenos Aires. Agora, por questão dos preços, pode voar duas vezes por semestre”, disse.
Flybondi no Brasil
Por aqui, a companhia opera voos para Florianópolis, Rio de Janeiro e São Paulo. Dentre as cidades, o Rio de Janeiro é a que recebe mais voos da companhia, com três operações diárias, representando 35% das operações mensais da Flybondi.
Para o CEO, há também uma intenção de aumentar as operações para São Paulo, que atualmente conta com um voo diário. Contudo, só será possível aumentar as atuações na capital paulista quando chegarem os novos aviões.
Sobre as atuações em outros mercados brasileiros, o executivo relembrou que, em 2020, havia se planejado para operar voos para Porto Alegre, mas que teve de cancelar a rota por conta da pandemia e que vão estudar quando poderão lançar oficialmente os voos.
Brasília e Manaus também são cidades que estão no radar da empresa. Já sobre os estados do Nordeste, Sana disse que há uma impossibilidade de operações por conta da autonomia dos aviões da companhia. “Na nossa frota atual, não podemos operar voos para o Nordeste com o avião lotado porque coloca em risco a autonomia de nossas aeronaves”.
Até o momento, o próximo mercado da companhia aqui no Brasil será a cidade de Belo Horizonte, mas, ao longo do ano, outras rotas poderão ser anunciadas.
Flybondi em outros mercados internacionais
Atualmente, o Brasil é o único mercado internacional da companhia argentina. De acordo com o CEO, é esperado também que a companhia voe para mais países da América Latina.
“Assim como estudamos novas rotas no Brasil, também estudamos rotas para países da América Latina. No momento, estamos verificando possibilidades de voar para Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, e Lima, no Peru. Esses destinos devem ser operados ainda este ano, só estamos vendo as questões operacionais e as permissões com as agências regulatórias”.
O Executivo também disse que estuda operar voos para o Uruguai, mas que precisa de uma autorização para operar voos no Aeroparque. “Atualmente operamos voos de Ezeiza, que oferece transporte terrestre para Montevidéu, em viagem que dura aproximadamente 1h. Os voos durariam 30 minutos, mas por conta da proximidade e dos valores muitos passageiros devem optar pelo meio terrestre. Só vamos poder lançar os voos para o Uruguai se conseguirmos permissão para voar do Aeroparque”.
Assim como acontece nos voos para o Nordeste brasileiro, de acordo com o CEO, os voos para a Colômbia também são difíceis de operar por conta da autonomia das aeronaves.
Novas aeronaves da Flybondi
Conforme dito anteriormente, a companhia possui, em sua frota atual, 12 aeronaves Boeing 737. Até o final do ano, é esperado que esse número suba para 17 ou 20 jatos. Segundo Mauricio Sana, a incrementação da frota vai permitir que a Flybondi melhore suas atuações no mercado que já opera, primeiramente, para depois voar para outros mercados.
“Vamos incrementar nossas operações, principalmente dentro da Argentina. Algumas cidades vão receber mais voos diários ou semanais. Um destaque fica para Mendoza e Bariloche, que devem receber três ou quatro voos diários a partir de Buenos Aires. Depois de ampliar nossas atuações na Argentina, vamos para outros mercados. Destes, São Paulo será uma cidade que vai ser impactada com os novos aviões, pois vamos aumentar nossas operações para lá”.
Programa de milhas da Flybondi
Atualmente, a Flybondi não possui um programa de passageiro frequente, apenas um clube de descontos. Sobre o futuro da companhia no ramo de programa de fidelidade, o Executivo nos informou que não pensa em migrar para as milhas tão cedo.
“Hoje temos nosso clube de desconto com mais de 40 mil passageiros inscritos, incluindo brasileiros. É um projeto muito interessante porque, quanto mais você voa, mais desconto terá para voar na próxima vez. Agora sobre as milhas, no momento não temos interesse em implementá-las“.
Projeção de mercado para a Flybondi
Atualmente, a Flybondi é a segunda companhia aérea que opera voos na Argentina, atrás apenas da Aerolíneas Argentinas, e uma das principais da América Latina no mercado low cost. Para o futuro da empresa, Mauricio Sana disse que eles têm um sonho de se tornar a principal companhia aérea low cost da América do Sul.
“Para os próximos anos queremos aumentar nossa presença na Argentina e no Brasil, que são os mercados que já atendemos, mas também chegar a outros países, como Bolívia, Peru, entre outros”.
Ele também disse que no final de 2024 será feito um balanço interno para analisar a saúde financeira da companhia. Dependendo da resposta, poderá, inclusive, tentar operar voos domésticos no Brasil ou montar um hub por aqui.
“No final de 2024 vamos analisar como está nossa rentabilidade, bem como nossos voos. Só aí podemos decidir o que faremos depois disso, quem sabe operar em novos lugares, voos domésticos ou então montar um hub no Brasil para chegar em outros países?”, finalizou.
Desde já, agradeço o tempo que o CEO Mauricio Sana dedicou a responder as perguntas.
O que você achou dos planos do futuro da Flybondi? Alguém já voou com a companhia?