Estaríamos vendo o fim da Primeira Classe? – É provável que sim.

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Por Gabriel Marinho

Mesmo antes da pandemia, o número de companhias aéreas oferecendo um produto de Primeira Classe vinha diminuindo ano após ano. Com o uso de aeronaves menores e mais eficientes, questões ambientais e mudanças na tecnologia de comunicação, muitas empresas abriram mão de ter uma cabine de Primeira para oferecer uma experiência melhor em suas classes executivas. A pandemia e a consequente queda de demanda no setor aéreo parecem estar acelerando esse processo e, com isso, surge a dúvida: seria esse o fim da Primeira Classe?

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História da Primeira Classe

Originalmente, nos primórdios da aviação, todos os passageiros voavam apenas de Primeira Classe, já que os aviões ofereciam apenas uma classe com serviços e atendimentos luxuosos para um mercado, até então, ainda muito caro e exclusivo.

À medida que os aviões se tornavam maiores e os voos mais frequentes, as companhias aéreas passaram a perceber que, se oferecessem tarifas mais baixas, poderiam voar com mais pessoas em seus aviões. Foi assim que, em 1955, a TWA introduziu dois tipos diferentes de serviço.

Mais tarde, a introdução do B747 marcou uma nova era para as cabines de Primeira Classe. Em 30 de setembro de 1968, o primeiro 747 foi lançado na Everett Plant da Boeing. O primeiro voo comercial ocorreu em 22 de janeiro de 1970. O 747, com seus dois andares, permitia um ambiente ainda mais privativo para os viajantes mais abastados. Com um lounge, refeições que pareciam de restaurantes e música ao vivo a bordo, a Rainha dos Céus consolidou as diferentes classes de passagem que conhecemos até hoje.

A classe executiva também surgiu com essa separação, oferecendo uma experiência mais confortável do que a classe econômica, porém mais em conta do que a Primeira Classe.


Importância na receita das companhias

Historicamente, as viagens aéreas de Primeira Classe são muito mais caras do que as demais classes. Os bilhetes podem custar mais de 10 vezes o preço dos bilhetes na econômica. Isso faz com que apenas um seleto grupo de pessoas possa pagar por esse valores (incluindo leitores do Passageiro de Primeira que não precisam pagar uma fortuna para ter esse luxo, rs).

Segundo um relatório da IATA (Associação Internacional de Transportes Aéreos), os passageiros das classes Premium (primeira e executiva) representaram apenas 5% do tráfego total internacional de passageiros entre janeiro e novembro de 2019. Entretanto, esses 5% foram responsáveis por 30,5% da receita total em rotas internacionais das companhias aéreas no mesmo período!

Esse valor é ainda mais impressionante se comparado apenas à receita proveniente de passageiros. Segundo a Investopedia, as companhias aéreas recebem apenas cerca de 60% de sua receita diretamente dos passageiros. Os outros 40% vêm da venda de milhas para empresas de cartão de crédito e outras fontes de receita. Isso quer dizer que os passageiros em classe premium são responsáveis por mais de 50% da receita de passageiros de uma companhia. Em alguns voos e rotas essa porcentagem pode ser bem mais alta.


Business vs. First

Ainda com os supostos retornos que a Primeira Classe tem para as companhias e os inúmeros benefícios (lounges, assentos-cama, comida, amenities…) que oferece para os passageiros, a Primeira Classe está perdendo espaço. Há alguns anos, quase todas as milhares de aeronaves de longo curso em operação ofereciam assentos desse tipo; agora o cenário é outro. Segundo a revista Britânica The Economist, até as companhias aéreas que mais vendem as tarifas em Primeira Classe estão reduzindo seu entusiasmo: o número de assentos foi reduzido de 14 para 11 nos superjumbos da Emirates e de 8 para 6 nos 777 da companhia com a nova cabine. Nos superjumbos da Singapore, a diminuição foi de 12 para 6.

Os dados indicam que os assentos premium que sustentam o faturamento das companhias vem, na verdade, da classe executiva. No final das contas, ter um assento que se transforma em cama é um grande diferencial em voos longos, o que atrai mais passageiros dispostos a pagar a diferença de preço entre a econômica e a executiva, mas poucos estão dispostos a pagar a diferença entre a executiva e a Primeira Classe.

Ainda segundo a The Economist, as companhias aéreas oferecem a First por dois motivos principais: o primeiro é para dar upgrades da classe executiva como um incentivo aos clientes com status nos programas de fidelidade. A segunda razão é para marketing. Um exemplo disso é a Emirates. Os passageiros começam a pensar que a classe econômica da Emirates, por exemplo, é mais sofisticada do que a de outras companhias aéreas, por associar às comodidades da Primeira classe da companhia, como os chuveiros e o bar a bordo.

Essa argumentação, entretanto, não se sustenta para todas as cias. Uma delas é a Air France-Klm, cujo chefe-executivo Alexandre de Juniac, afirmou em 2014 que a Primeira Classe era “nada mais que um dispendioso artifício de marketing” e que “ninguém ganha dinheiro com isso“.

Nos últimos anos, muitas companhias têm fundido o seu produto de Primeira Classe com o da classe executiva, a chamada Business-First. A Delta com a Delta One Suite, a United com a Polaris e a Turkish são alguns dos exemplos.

Delta One Suite em um B777.

Além do mais, tentando trazer benefícios para a Primeira Classe que a diferencie da classe executiva, como ambientes maiores e mais privativos, as companhias acabam encontrando competição em um outro setor: o de jatos executivos.


Desafios

Diversos são os desafios encontrados pelas companhias aéreas ao tentar justificar manter cabines de Primeira Classe. Um deles é a evolução dos jatos executivos que possuem cada vez mais autonomia para voar grandes distâncias e podem ser comprados por várias empresas em conjunto através de um processo chamado fractional ownership, ou propriedade fracionária, que diminui expressivamente o custo para manter essas aeronaves.

Além disso, para as empresas com o objetivo de ser ecologicamente sustentáveis, manter seus funcionários voando na Primeira Classe é ruim para os negócios e gera uma publicidade negativa, já que a pegada de carbono dos assentos premium é até 7 vezes maior do que a dos assentos convencionais, já que esses assentos ocupam mais espaço nas aeronaves.

Tecnologias de comunicação como o Skype, Google Hangouts e Zoom também atuam como substitutos para os viajantes corporativos que podem fazer uma reunião sem precisar se deslocar para outro local.


O coronavírus e o fim da Primeira Classe

Com a queda drástica na demanda do setor aéreo, a Qantas, Asiana, Singapore Airlines, e Qatar estão entre as companhias que bloquearam temporariamente as reservas em suas cabines de Primeira Classe. A Lufthansa também está fazendo o bloqueio em algumas rotas.

Além disso, com o B747 e o A380 sendo aposentado mundo afora, sobra cada vez menos espaço nas aeronaves mais modernas de longo alcance para acomodar os grandes e luxuosos assentos da First.

Outro fator muito importante é uma mudança de hábitos. A pandemia fez com que diversas empresas percebessem que podem funcionar apenas utilizando plataformas digitais. Essa tendência tem levado especialistas a acreditar que as viagem corporativas podem acabar nunca se recuperando para números pré-pandemia.


Cabines de Primeira Classe por companhia

Abaixo você confere uma lista com todas as companhias que ainda possuem cabines de Primeira Classe.

África

  • TAAG Angola Airlines – Primeira Classe (a bordo de todas as aeronaves Boeing 777 (-200ER e -300ER))

Américas

  • American Airlines – Flagship First (a bordo de todas as aeronaves Boeing 777-300ER)

Ásia

  • Air China – Forbidden Pavilion First Class (a bordo de todas as aeronaves Boeing 747 (-400 e -8I) e algumas aeronaves Boeing 777-300ER)
  • All Nippon Airways – First Class (a bordo de todas as aeronaves Airbus A380-800 e Boeing 777-300ER)
  • Asiana – First Class (a bordo de algumas aeronaves Airbus A380-800)
  • Bamboo Airways – First Class (a bordo de algumas aeronaves Boeing 787-9 – em breve)
  • Cathay Dragon – First Class (a bordo de algumas aeronaves Airbus A330-300)
  • Cathay Pacific – First Class (a bordo de algumas aeronaves Boeing 777-300ER)
  • China Eastern Airlines – First Class (a bordo de todas as aeronaves Airbus A350-900, Boeing 777-300ER e Boeing 787-9)
  • China Southern Airlines – First Class (a bordo de todas as aeronaves Airbus A380-800 e algumas Airbus A330-300)
  • Garuda Indonesia – First Class (a bordo de algumas aeronaves Boeing 777-300ER)
  • Japan Airlines – JAL Suite (a bordo de todas as aeronaves Boeing 777-300ER)
  • Korean Air – Kosmo Suite (a bordo de todas as aeronaves Airbus A380-800 e algumas aeronaves Boeing 777 (-200ER e -300ER)); Kosmo Suite 2.0 (a bordo de todas as aeronaves Boeing 747-8I e algumas aeronaves Boeing 777-300ER); Kosmo Sleeper (a bordo de algumas aeronaves Boeing 777-200ER); Sleeper (a bordo de todas as aeronaves Boeing 747-400 e Boeing 777-300)
  • Malaysia Airlines – Business Studio* (a bordo do A380 e dos A350) *apesar do nome, os assentos são de primeira classe.
  • Shanghai Airlines – First Class (a bordo de todas as aeronaves Boeing 787-9)
  • Singapore Airlines – First Class (a bordo de todas as aeronaves Boeing 777 -300 e -300ER); Suites (a bordo de todas as aeronaves Airbus A380-800);
  • Thai Airways – Royal First Class (a bordo de todas as aeronaves Airbus A380-800 e Boeing 747-400)
  • XiamenAir – First Class (a bordo de todas as aeronaves Boeing 787-8)

Europa

  • Air France – La Première (a bordo de algumas aeronaves Boeing 777-300ER)
  • British Airways – First (a bordo de todos os Airbus A380-800, Boeing 747-400 – fora de operação, Boeing 777 (-300ER e -9) e Boeing 787 (-9 e -10) e algumas aeronaves Boeing 777-200ER)
  • Lufthansa – First Class (a bordo de todos os Airbus A340-600, Airbus A380-800 e Boeing 747-8I e alguns aviões Airbus A330-300)
  • SWISS International Air Lines – SWISS First Class (a bordo de todas as aeronaves Airbus A330-300, Airbus A340-300 e Boeing 777-300ER)

Oceania

  • Qantas – First (a bordo de todas as aeronaves Airbus A380-800)

Oriente Médio

  • El Al – First Class (a bordo de todas as aeronaves Boeing 777-200ER)
  • Emirates – First Class – suíte fechada (a bordo de alguns Boeing 777-300ER); First Class – suíte privada (a bordo de alguns Airbus A380-800 e Boeing 777-300ER)
  • Etihad Airways – Diamond First Class (a bordo de algumas aeronaves Boeing 777-300ER); The Apartment & The Residence (a bordo de todas os A380-800); First Suite  (a bordo de algumas aeronaves Boeing 787-9)
  • Kuwait Airways – First Class (a bordo de todas as aeronaves Airbus A330-200 e Boeing 777-300ER)
  • Oman Air – First Class (a bordo de algumas aeronaves Airbus A330-300 e Boeing 787-9)
  • Qatar Airways – First Class (a bordo de todas as aeronaves Airbus A380-800)
  • Saudia – Primeira Classe (a bordo de algumas aeronaves Boeing 777-300ER)

Comentário

Não tem como ignorar as mudanças que virão pós pandemia. A Primeira Classe só se sustenta graças aos viajantes corporativos, pouco sensíveis ao preço das passagens, que não se importam em pagar mais para viajar com mais conforto em uma passagem comprada de última hora. Entretanto, com a crise financeiras fazendo com que as companhias tenham que cortar custos e a mudança de mentalidade no mundo corporativo que deve passar a adotar cada vez mais tecnologias de comunicação, a Primeira Classe tende a tornar-se obsoleta paulatinamente.

A opinião dos especialistas é de que o produto passe a ser cada vez mais exclusivo em rotas chave, como para o Oriente Médio e alguns mercados na Ásia. E no restante do planeta, a classe executiva deve tornar-se a norma para uma viagem com mais conforto e comodidade.


E você, já viajou de Primeira Classe? Como vê o futuro dessa cabine no mundo pós-pandemia?

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