Dando sequência à nossa nova série em que comparamos os custos de uma emissão para a mesma rota e companhia aérea, considerando o resgate em diversos programas de fidelidade, trazemos uma viagem em Classe Executiva com a Qatar Airways entre São Paulo e Malé, nas Maldivas.
Muitas vezes, além das milhas em si, há outros fatores que incidem sobre uma emissão, como taxas cobradas pelos próprios programas e companhias aéreas, que têm interferência direta no custo final do resgate.
Pensando nisso, criamos essa série, com o objetivo de ajudar você a tomar a melhor decisão na hora de escolher o programa de fidelidade ideal para a sua emissão.
Tendo em vista alguns comentários no post da semana passada, é preciso esclarecer que a série Comparando Emissões, tem conteúdo exclusivamente didático, sem qualquer conotação comercial. Aliás, vale registrar que todas as matérias de conteúdo comercial publicadas no PP, são devidamente sinalizadas com a tag #publicidade.
Eventual citação de companhia aérea e/ou probrama de fidelidade, decorre exclusivamente das premissas que estabelecemos para a primeira fase desta série: comparar resgates para uma dada viagem, voando na mesma companhia aérea, utilizando todos os programas de fidelidade acessíveis aos clientes brasileiros.
São Paulo para Maldivas (Malé), com conexão em Doha
Dando sequência à nossa série, escolhemos o resgate para um dos destinos mais desejados pelos brasileiros, as Maldivas, voando na excepcional Classe Executiva da Qatar Airways.
Para esse voo com a Qatar Airways, conseguimos resgate utilizando três dos programas a que temos acesso no mercado brasileiro: AAdvantage, da American Airlines, Executive Club, da British Airways e o polêmico LATAM Pass, que embora tenha assegurado que vai manter os resgates com base em tabela fixa, através do call center, continua dificultando o quanto possível esses resgates, como vêm relatando alguns leitores.
De todo modo, como a companhia, oficialmente, informa que continuará honrando a tabela fixa, e alguns poucos leitores, desde então, tiveram êxito em emitir com a precificação da tabela, especialmente através de lojas LATAM Travel, vamos considerar o mesmo nessa postagem.
Programas de fidelidade
- AAdvantage (American Airlines): o programa de fidelidade da American Airlines é, para muitos, o melhor programa a que temos acesso no Brasil e um dos melhores do mercado mundial. Particularmente, partilho dessa avaliação. E o melhor é que, no momento, está sendo possível gerar até 4 pontos por dólar gasto nas compras com o cartão de crédito AAdvantage Mastercard Black do Santander, durante a campanha Bateu-Ganhou, que vai até o final de abril;
- Executive Club (British Airways): o programa de fidelidade da British Airways é parceiro direto da Livelo, mas também recebe Avios por via triangular, do programa Esfera, combinando Avios com o Iberia Plus, que é parceiro Santander Esfera. O nosso interesse em falar do compartilhamento de Avios entre Iberia Plus e Executive Club, é que, assim como o AAdvantage, os cartões da Esfera também estão participando da campanha Bateu-Ganhou, o que facilita bastante a geração de pontos no programa. Mesmo com a lamentável desvalorização de 50% na taxa de transferência da Esfera, ainda é possível gerar Avios a um custo razoável, em circunstâncias excepcionais, como no Bateu-Ganhou. Deixamos de utilizar o Iberia Plus, diretamente na comparação, tendo em vista que o programa não emite parceiros one-way (só ida ou volta), apenas round-trip (ida e volta);
- LATAM Pass (LATAM): apesar da polêmica envolvendo o programa, desde a efetiva implantação do seu pacote de alterações desagradáveis, em meados do mês, é preciso mostrar o resgate que, em tese, seria possível com o programa, já que a empresa esclareceu oficialmente ao PP que continuaria honrado os resgates tabelados com parceiros, através do call center.
Custos de geração das milhas e pontos
O custo relativo das “moedas” envolvidas em cada um desses resgates, é de extrema relevância para avaliar os custos finais de cada emissão.
Para apurar o CPM [custo por cada mil milhas] em cada um dos programas mostrados na matéria, vamos levar em consideração os melhores valores de aquisição desses pontos, conforme as promoções dos últimos meses, assim como as perspectivas de curto prazo.
No caso do AAdvantage, cujo acesso no mercado brasileiro, dá-se através do cartão de crédito co-branded Santander AAdvantage Mastercard Black, Platinum ou Gold, que participa no momento de mais uma campanha Bateu, Ganhou!. Na melhor versão, Black, as compras estão gerando 4 pontos por dólar gasto, ante os habituais 2×1.
Assim, levando em conta a pontuação atual do Santander AAdvantage Black, de 4×1, com utilização em carteiras digitais com a taxa média de 2,80% para pagamento de boletos, encontraríamos um CPM aproximado de R$37,85, considerado o dólar oficial do fechamento de 30 de março + 6% de spread.
Para o Executive Club, como mencionamos acima, embora a parceria direta seja com a Livelo, com a taxa 2:1, que daria um CPM mínimo de R$70, podemos considerar o custo melhor através da triangulação com o Iberia Plus, com quem é possível compartilhar Avios, de modo a tirar proveito, também, da promoção Bateu, Ganhou! do Santander, não obstante o programa não esteja na lista de parceiros da Esfera. Para os que não recordam, vela ler essa excelente matéria em que Fábio Vilela nos ensina como transferir Avios entre os programas da British Airways e Iberia.
Por isso, podemos calcular os custos dos Avios do Iberia Plus, como se tivéssemos tratando do Executive Club, já que, uma vez creditados seus Avios no programa da voadora espanhola, basta transferi-los, sem custos, para a sua conta no British Executive Club.
No caso dos cartões Esfera puros, a melhor opção está com os cartões Santander Unlimited Visa Infinite ou Mastercard Black. Nesses cartões, a pontuação está em 5×1. Nesse patamar, com utilização em carteiras digitais com a taxa média de 2,80% para pagamento de boletos, teríamos um CPM aproximado de R$28,25 para os pontos Esfera, considerado o dólar oficial do fechamento de 30 de março + 6% de spread. E é possível que o custo seja ainda melhor, para quem tem Cartão Santander Visa habilitado na promoção de pontos em dobro. Nesse caso, a pontuação pode atingir 7,2×1. Infelizmente, os Avios chegam no Iberia Plus/Executive Club, com o salgado CPM de R$56,50.
Para o LATAM Pass, vamos considerar o valor oferecido em campanhas de compra de pontos com desconto, com percentual de até 70%, que tem tido com alguma regularidade nos últimos anos, o que daria um CPM de R$21.
Comparação geral
Como esse resgate pouca variação em função do sentido da rota, vamos nos limitar a mostrar o resgate one-way, apenas no sentido de ida:
Resgate one-way (só ida/volta) São Paulo x Doha x Malé em Classe Executiva
AAdvantage (American Airlines)
Milhas: 90.000
Taxas: R$236,81
Além de apresentar a melhor pontuação para a rota, o programa apresenta taxa módica e facilidade extrema para o resgate, que é processado 100% online.
Executive Club (British Airways)
Avios: 105.000
Taxas: US$189 (R$899)
Apesar de levemente maior que o custo absoluto do AAdvantage, o deságio na taxa de transferência Esfera-Iberia Plus/EC, de 2:1, acaba tornando o custo real muito superior ao do AAdvantage, já que o CPM de chegada dos Avios, no caso, é de R$56,50.
LATAM Pass
Pontos: 204.000
Taxas: R$388,18
Como o link do site antigo do LATAM Pass deixou de funcionar poucos dias após a implantação do novo sistema, e na nova versão somente são mostrados os bilhetes comerciais para parceiros, não há como trazer imagens da pesquisa, como fizemos até o post da semana passada (cuja imagem havíamos colhido antes do site antigo ser desabilitado).
É possível, assim, estimar o custo previsto na tabela constante do site do LATAM Pass. Para esse resgate, o programa prevê a soma dos trechos das duas regiões por que passam os voos: Brasil para Oriente Médio, cujo tabela prevê a cobrança de 120 mil pontos LATAM Pass + Oriente Médio para Ásia Ocidental, de 84 mil pontos LATAM Pass. O custo final em pontos, assim, seria de 204 mil pontos LATAM Pass.
Vale registrar, mais uma vez, que não desconhecemos os relatos de alguns leitores, sobre atendentes do call center terem mencionado que os resgates com parceiros, utilizando a tabela fixa estarem suspensos. Entretanto, respondendo às indagações do PP, o programa reafirmou que a tabela fixa para parceiros continua fixa e sendo aplicada através da central telefônica. No decorrer da semana, aliás, tivemos notícia de alguns resgates, tanto no call center, quanto em lojas LATAM Travel, com obediência aos valor fixos previstos na tabela. Deixamos claro, contudo, que relatos de tentativas frutradas de resgate, sobretudo na central telefônica, continuam a surgir.
Comparação efetiva
Como pontuamos no tópico anterior, esse resgate não varia em função do sentido da rota, pois não há cobrança de YQ, independentemente de partir ou não do Brasil, por isso, vamos fazer uma única tabela comparativa, de um trecho avulso (one-way) Para calcular uma viagem de ida e volta (round-trip), basta duplicar os valores:
Resgate one-way (só ida/volta) São Paulo x Doha x Malé em Classe Executiva
Hoje, pela primeira vez na série, temos a coincidência do menor custo efetivo, ser também o menor custo absoluto em milhas. Aliás, o AAdvantage “dá um banho” em todos os sentidos, sendo o que cobra o menor número de milhas/pontos, tem as melhores taxas, além de ser o que tem a ferramenta de pesquisa mais amigável (inclusive um call center maravilhoso, acaso precise resolver alguma pendência), além de realizar o resgate 100% on-line.
Sobre o LATAM Pass, que tem um custo até razoável para o resgate, é de se esperar que o programa adote uma postura clara sobre os resgates com parceiros, porque não é aceitável que a situação continue como está, com as emissões dependendo de conseguir um atendente que faça “milagre” no call center, ou ter que pagar taxas salgadas em lojas LATAM Travel.
Fatores a considerar
Custos referenciais variáveis: tenha em mente que os custos de milhas e pontos que adotamos nos nossos cálculos, podem variar de usuário para usuário, inclusive em decorrência da utilização eventual de alguns cartões de crédito. Por exemplo, quem tem cartão Unlimited Visa do Santander, cadastrado na promoção de pontos em dobro e está participando do Bateu, Ganhou!, pode gerar até 7,2 pontos por dólar durante a campanha, ou seja, até 1,42 pontos por real. Mesmo pagando 2,80% de taxa para quitar boletos em aplicativos de pagamento, vai gerar pontos Esfera com CPM de R$19,71. Numa promoção bonificação de 100% para o LATAM Pass, as milhas ou pontos chegam com CPM de R$9,86, ou mesmo mandando para o Iberia Plus com o deságio de 50%, vai gerar Avios a 39,42;
Falta de uniformidade sobre a definição do custo de milhas e pontos: para a matéria, levamos em conta os custos de compra de pontos LATAM Pass que temos visto em algumas promoções relativamente frequentes. Para os programas internacionais, parceiros do Amex-Santander, calculamos o custo das taxas em pagamentos feitos em carteiras digitais, já que não há, até aqui, como quantificar o custo de compra desses pontos, já que o Santander ainda não permite a compra direta de pontos do Membership Rewards, como faz com os pontos Esfera. Não esqueça, contudo, que há outras formas de considerar esses custos. Muitos consideram “zero” o custo dos pontos gerados no cartão em gastos orgânicos, o que reduz muito o valor médio, a depender do volume de gastos. Particularmente, prefiro ter como referência o custo de geração por meios pagos, para o caso de precisar de grande quantidade, que escape da geração através de gastos do dia a dia. Não podemos dizer, entretanto, que uma forma seja mais correta que a outra;
Fique atento ao custo relativo das milhas e a incidência de taxas: como mostram as tabelas comparativas que juntamos à matéria, nem sempre o menor número de milhas, representa o menor custo. Leve em conta, sempre, o valor relativo dessas milhas, além de outros custos incidentes, como taxas de emissão e/ou de combustível;
Dificuldades anormais para resgates com parceiros no LATAM Pass, utilizando a tabela fixa: como já reiterado no post, não deixamos de incluir o LATAM Pass na comparação, porque a filosofia desta série é utilizar todos os programas de fidelidades a que temos acesso no mercado brasileiro, que façam o mesmo resgate. Não desconhecemos, por outro lado, as inúmeras dificuldades que vêm sendo citadas pelos leitores, para conseguir finalizar resgates com parceiros utilizando a tabela fixa. Como dissemos, o programa já reafirmou ao PP, que nada mudou em relação à previsão de resgatar voos em parceiros com base na tabela fixa constante do site. Acontece que, apesar disso, os relatos de dificuldades para finalizar esses resgates continuam surgindo, inclusive com notícia que os atendentes teriam informado sobre a suspensão desses resgates. Por outro lado, tivemos ciência de resgates bem sucedidos, embora em menor número, é bem verdade. Estamos monitorando o problema e torcemos para que a situação seja regularizada o mais breve possível, porque ainda sobraram alguns resgates muito bons na tabela de parceiros, que esperamos possamos continuar a usufruir;
Momento de instabilidade no mercado nacional de milhas e pontos: os usários de milhas e pontos sabem, ou deveriam saber, que esse mercado é extremamente volátil e se move ao sabor das oscilações de oferta e procura. Nos últimos meses, no entanto, temos notado mudanças e oscilações que ultrapassam os limites da previsibilidade, tanto para acúmulo, quanto uso das milhas e pontos. É verdade que tivemos um período favorável ao consumidor durante a fase mais aguda da pandemia, em que abundavam as possibilidades de acumular pontos, ao tempo em que a baixa demanda, dadas as restrições de viagem, nos permitiam resgates fáceis e baratos. Com a retomada das viagens e o reaquecimento do setor, temos visto um endurecimento nas campanhas de acúmulo, como no Miles&Go, ou um considerável aumento na cobrança de milhas e pontos, ou mesmo taxas, para resgates. No Smiles, por exemplo, os resagates com Air Europa, que tinham ótimo custo benefício, agora beiram as 200 mil milhas por trecho. TudoAzul precificando Europa e Estados Unidos, nas raras datas em que oferece esses valores menores, em 175 mil pontos (com pouquíssimas datas com esses valores, registre-se). Emirates mais que triplicando o valor da Taxa de Combustível, a ponto de inviabilizar alguns resgates. Pra fechar a tampa, LATAM acabou os resgates award para voos próprios, já que todos os resgates oferecidos no novo site, não mais são, que a transformação do valor pagante em pontos. Nem reclamo da oferta exclusiva desse tipo de resgate (comercial), no site, em relação aos parceiros, porque há tempos que não se conseguia finalizar esses resgates on-line. O problema está nos citados relatos de negativa de uso da tabela fixa pela central telefônica, embora as vagas award estejam checadas no site do AAdvantage. Não a toa, cada vez mais focamos nossos acúmulos nos programas interncionais, a despeito dos custos e dificuldades envolvidos;
Outros fatores: além desses fatores, também é prudente levar em consideração se há milhas próximas ao vencimento em algum dos programas em que o resgate é permitido. Adicionalmente, não deixe de avaliar os mecanismos de que você dispõe para repor essas milhas, num futuro próximo ou médio. Opte por não utilizar aquelas milhas e pontos que já sabe que vai utilizar para outro resgate, no qual as outras milhas e pontos não podem ser usadas, exceto se tiver saldo para ambos os resgates.
Comentário
Ter uma visão geral do custo relativo das milhas e pontos, é fundamental para avaliar os melhores resgates em cada um dos programas de usuário frequente. Quando o resgate é possível em mais de um desses programas, essa comparação se mostra ainda mais relevante, para que tenhamos sempre os maiores benefícios no uso eficiente desse ativo de valor, que é nossas milhas e pontos.
E você, costuma comparar os custos do resgate em cada programa que utiliza? Quais os principais fatores que costuma priorizar?
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